Dos primórdios da LBV

Fonte: Jornal O Estado do Paraná, edição de 8 de julho de 2007, domingo | Atualizado em dezembro de 2016.
Arquivo BV

Alziro Zarur

Arquivo BV

Salustiano César

Por intermédio da Equipe Solidária da Legião da Boa Vontade da Europa, recebi um raro exemplar do jornal O Cristão, de 31 de janeiro de 1950, da cidade do Rio de Janeiro/RJ, Brasil. Trata-se de um número comemorativo do 58o aniversário desse órgão oficial da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil. Nele, encontramos uma reportagem, na página 10, sob o título “O valor da cooperação”, assinada por Salustiano César, ministro evangélico que documenta o nascimento da Legião da Boa Vontade (LBV), criada por Alziro Zarur (1914-1979) em 1o de janeiro de 1950. A seguir, para registro histórico, apresento alguns trechos:

O Valor da Cooperação

“... Nós somos cooperadores de Deus...

“(Apóstolo Paulo, I Coríntios, 3:9)

Tela: Rembrandt (1606-1669)

O Apóstolo Paulo

“Há muita coisa na vida cristã que ainda não foi devidamente evidenciada em termos de poder evangélico. A cooperação é uma dessas coisas, cuja compreensão conceitual melhor firmada gerará novos rumos para notáveis realizações.

“Sentimos necessidade de falar em cooperação, mas não como geralmente se faz, com arranjos de vocábulos enfeitados, com elegância estilística.

“Começarei afirmando que o espírito de cooperação entre nós tem gerado e produzido pouquíssimos efeitos em todos os planos de nossa denominação. O que tem faltado não é o sentimento cooperativista. Este existe muito latente nos corações, porém sem educação, sem planificação, sem direção. (...)

“O valor da cooperação é inegável na existência de empreendimentos os mais dignos de renome. (...)

“Na sociedade hodierna encontramos fatos que constituem verdadeiros reptos ao povo cristão. No dia 7 de janeiro corrente, especialmente convidado como ministro protestante, participei de uma interessantíssima quão surpreendente reunião no edifício da Associação Brasileira de Imprensa, onde o espírito colaborativo, numa forma toda providencial, se caracterizou pela representação em conjunto de pessoas de diferentes credos e correntes filosóficas. Nossa palavra baseada em Romanos, 12, foi ouvida com extraordinários aplausos, ao lado dos oradores: Israelita, Positivista, Esoterista, Espírita, Católico Romano, Livre-pensador. Muitíssimo impressionante foi essa solenidade pelo objetivo culminante de congregar as ‘pessoas de Boa Vontade’ em favor dos que ficaram à margem da vida. Com este objetivo, foi organizada a ‘Legião da Boa Vontade’, que atenderá ‘sem preconceitos’ a todos os que sofrem nos seus leitos de dor, em suas casas ou emparedados nos hospitais. (O destaque é nosso.)

“Que lição esta que vem de Deus! (...)

“Vamos agir no espírito da Palavra de Deus que diz:

“Amai-vos cordialmente uns aos outros, com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.

“Não sejais vagarosos no cuidado: sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor:

“Comunicai com os Santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade”.

Relembrando a ABI

   

De fato, a revista BOA VONTADE no 1, de maio de 1956, p. 5, também destaca a figura do pastor Salustiano: “A Cruzada de Religiões Irmanadas teve início a 7 de janeiro de 1950, no Salão do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), falando sete oradores: Teles da Cruz, católico; Murilo Botelho, esotérico; Leopoldo Machado, espírita; Eugênio Figueiredo, livre-pensador; Reverendo Salustiano César, protestante; Samuel Linderman, judeu; Ascânio de Farias, positivista. Dirigiu a memorável sessão Alziro Zarur, Presidente da Legião da Boa Vontade”.

Arquivo LBV

Em 7 de janeiro de 1950, Alziro Zarur comanda a primeira reunião ecumênica da Legião da Boa Vontade, a Cruzada de Religiões Irmanadas, pela qual pioneiramente preconizava o interrelacionamento religioso. Ela foi realizada no Salão do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, RJ, da qual Leopoldo Machado foi um dos oradores. Na foto superior, ao lado direito de Zarur, que aparece em pé, Teles da Cruz (Catolicismo), à esquerda Murilo Botelho (Esoterismo) e Ascânio Farias (Positivismo).

Ao encerrar a coluna de hoje, dedico aos meus pacientes leitores, versos que ousei, em Buenos Aires, Argentina, na Praça San Martín, em 1996, numa hora de grande desafio:

Ao Cristo, com decisão

A vida passa

E a dor sem graça

Fere o coração.

Mas a Fé aquece

A Alma que padece

E aponta o caminho

Da Redenção.

E o Espírito porfia,

Porque confia

No Salvador.

E com força marcha

Com devoção avança

E o Cristo alcança

Com decisão!

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.