O que é “dar a outra face”

Fonte: Jornal de Brasília, edição de 16 de dezembro de 2014, terça-feira. | Atualizado em outubro de 2022.

Pelo prisma do Amor divinizado, que não se confunde com a covardia diante da injustiça e da perversidade, já lhes falei sobre aquela passagem do Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 6:29: “Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra” (...). Significa igualmente dizer que jamais devemos entrar na sintonia do ódio. “Dar a outra face” é levar os que nos tentam ofender à percepção de que cometem um ultraje a si mesmos, pois o ódio é arma voltada contra o peito de quem odeia. “Dar a outra face” é um ato de coragem, um exercício de paciência; não é ação para omissos e acomodados.

Os Simples são os que lutam por tornarem-se puros de coração, e assim o devem ser, porque verão Deus face a face, consoante revela Jesus nas Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha, uma das mais notáveis páginas da literatura espiritual planetária conforme afirmei em As Profecias sem Mistério (1998).

Tela: Michelangelo Grigoletti (1801-1870)

Detalhe da obra: O Sermão da Montanha.

A Bíblia Sagrada — por ser, na sua parte profética, a manifestação de Deus que é Amor — está, por esse motivo, sublimemente resumida no Mandamento Novo de Jesus, o Cristo Ecumênico, o Estadista Divino: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos (…). Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos. (...) Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35; 15:13 e 9).

Reprodução BV

Martinho Lutero

Quem souber entendê-lo de verdade conhecerá a Escritura, pois toda ela foi feita para que cheguemos à plenitude de nos amar uns aos outros como o Amigo Celeste nos ama. Utópico?! Um dia será a mais poderosa realidade, tal como a cada vez mais necessária irmanação dos corações, a ponto de ter afirmado em Fulda, na Alemanha, terra de Martinho Lutero (1483-1546), em 18 de novembro de 1980, Sua Santidade, o papa João Paulo II (1920-2005): “O Ecumenismo é um dever urgente”.

Arquivo LBV

João Paulo II

O planeta Terra vive a fase dramática de uma profunda transição. Os que pensam que o Apocalipse é toleima, um delírio do Evangelista-Profeta, porque ele estava idoso, encontram-se enganados. O fato de ser João nonagenário, ter levado chicotadas, vivido como fugitivo, sendo xingado, caluniado, aprisionado, valoriza enormemente o seu testemunho perante o Cristo e a humanidade. As prisões nos dias atuais deixam muito a desejar, a despeito de todo o progresso material existente e do esforço de tantas organizações que batalham pelos direitos humanos. Imaginem naquele tempo, quando a vida valia menos que agora. Bem que é difícil acreditar que ela possa ter significado menor em alguma época semelhante a esta em que, estupidamente, homens e nações se armam cada vez mais. Hoje, porém, há instituições notáveis, que se esmeram pela qualidade da vida humana.

Tela: Pedro de Orrente (1580-1645)

Título da obra: João Evangelista em Patmos.

Abro parênteses para destacar que nos preocupamos bastante com a qualidade da existência espiritual também, e não somente daqueles que se encontram nas cadeias. Contudo, dos que, vivendo fora delas, são vítimas dos maiores agravos.

Justamente o fato de ter o Discípulo Amado sofrido tanto, ultrapassado os 90 anos, não mais estar preso aos apetites da matéria, possibilitou aos Maiores da Espiritualidade transmitirem-lhe a mensagem mais importante para a sobrevivência pessoal e coletiva.

Segundo declarou um dos que me honram com a sua audiência, acompanhando este modesto trabalho de analisar os textos bíblicos para os Simples, não estamos consultando açodadamente o Livro das Profecias Finais a respeito do que seriam as bestas, as trombetas, as pragas e tantas outras coisas. Tudo tem um ciclo, deve seguir-se uma escala crescente. A não ser que a Alma já traga em si um saber profundo absorvido em outras vidas. E mesmo aqueles que possuem um conhecimento maior do assunto desejam vir do princípio, como, por exemplo, no caso da Bíblia, conforme estamos fazendo, para não perder um pouco que seja de tanta riqueza espiritual.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.