A queda de todas as bastilhas

Hoje se faz necessário pôr abaixo as bastilhas invisíveis, todavia de consequências bem palpáveis: espirituais, morais, psicológicas, do sentimento.

Fonte: Jornal O Sul, edição de 14 de julho de 2008, segunda-feira | Atualizado em junho de 2023.

Dia 14 de julho. Completam-se 234 anos da Queda da Bastilha, episódio que deflagrou a Revolução Francesa (infelizmente manchada pelo sangue dos guilhotinados), cujas origens remontam aos enciclopedistas, vanguardeiros do iluminismo. Relativo ao tema, selecionei apontamentos meus, ao longo do tempo, de palestras, programas de rádio, TV e de artigos publicados em jornais, revistas e sites no Brasil e no exterior.

Tela: Hubert Robert (1733-1808)

Título da obra: A Bastilha nos primeiros dias de sua demolição.

Não tenho pretensão de discutir aspectos históricos ― existem bons livros para isso ―, contudo extrair uma importante analogia sobre quanto ainda é forçoso trilhar a fim de que as populações da Terra deixem ruir de suas mentes e corações a pior de todas as bastilhas: a ignorância acerca da realidade gritante da vida após o fenômeno da morte. Fator decisivo para que a valorização do ser integral (corpo e Espírito) dite as regras dos governos das nações no terceiro milênio: Quando garoto, devia ter 9 para 10 anos, assisti com meu pai, Bruno Simões de Paiva (1911-2000), no Rio de Janeiro, a um filme sobre o 14 de julho.

Arquivo pessoal

Álbum de família: José de Paiva Netto; o pai dele, seu Bruno Simões de Paiva; a mãe, dona Idalina Cecília de Paiva; e sua irmã, Lícia Margarida.

Nos séculos 17 e 18, o absolutismo monárquico atingira intensa projeção. Como geralmente acontece nas relações cotidianas, se afastadas do respeito ao Espírito Eterno do ser humano, houve por parte da monarquia francesa um descaso tremendo com as necessidades básicas do seu povo, cuja expressão mais grotesca seria a frase atribuída à rainha Maria Antonieta (1755-1793). Ao ser informada por um dos cortesões de que o barulho que a importunava vinha das massas famintas clamando por pão, teria ela debochado: “Por que não comem brioche?”

Tal contingência desumana tinha de desmoronar por força do curso inexorável da História. A população de Paris, em 14 de julho de 1789, desesperada, marchou contra a prisão, símbolo da tirania de que desejava livrar-se.

Abrir caminhos

Danilo Parmegiani

Jovens parisienses leem folheto com mensagem do dirigente da LBV, Paiva Netto

No filme de que lhes falei há uma cena impressionante. Ela representa as pessoas que não temem abrir caminhos: o povo estava de um lado e aqueles que protegiam a Bastilha, do outro. Entretanto, os que ameaçavam invadi-la, com temor, não avançavam. De repente, um homem destacou-se do meio daquela multidão e atravessou a ponte que cobria o fosso, sendo abatido por uma descarga de tiros. Esse ato de coragem fez com que os demais o imitassem e, assim, conseguissem entrar na fortaleza. Parece perspectiva romântica de um momento trágico, porém retrata de modo irretocável uma verdade: há sempre alguém que se sacrifica pela mudança substancial do status quo. Não é preciso levar bala para que as transformações ocorram. Há outros choques que ferem mais os vanguardeiros, a exemplo da incompreensão, da inveja, do preconceito, da perseguição e do boicote.

Na sequência do longa-metragem, observamos a tomada da prisão, destruída de cima a baixo.

Existem aqueles que, tentando minimizar o fato histórico, apresentam uma argumentação frugal de que o famoso cárcere não mais tinha relevância naquele período, pois apenas uns poucos presos lá se encontravam.

Adriana Rocha

Casal com panfleto contendo artigos do escritor José de Paiva Netto

Ora, o que o povo demoliu não só foi a construção de pedra; no entanto, o mais expressivo emblema, para ele, do absolutismo dinástico!

E a palavra dinastia pode, por extensão, significar muita coisa, uma vez que funciona tanto no feudalismo quanto na burguesia, no capitalismo e no próprio comunismo. Dinastia não implica somente a sucessão por sangue. Existe uma pior: a da ambição desmedida que arrasa o ser vivente, sob qualquer regime.

Uma nova civilização

Hoje se faz necessário pôr abaixo as bastilhas invisíveis, todavia de consequências bem palpáveis: espirituais, morais, psicológicas, do sentimento.

Façamos florescer uma civilização nova a partir da postura espiritual e mental elevada de cada criatura. Já dizia um filósofo: “A fronteira mais difícil a ser ultrapassada é a do cérebro humano”.

O homem foi à Lua, observou com seus equipamentos os confins do Universo em que habita, mas ainda não conhece a si mesmo. E descobrir os potenciais que cada um possui para o bem de si próprio e da coletividade é providência certa na construção “do Novo Céu e da Nova Terra”, anunciados por Jesus em Seu Apocalipse (21:1 a 8).

André Fernandes

Na foto, da esquerda para a direita, o Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica (o ParlaMundi da LBV), a sede administrativa e o TBV, localizados na Quadra 915 Sul, em Brasília/DF, Brasil. Outras informações: (61) 3114-1070/ www.tbv.com.br.

O Templo da Boa Vontade — aclamado pelo povo como uma das Sete Maravilhas de Brasília/DF, Brasil, e que, segundo dados oficiais da Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur-DF), é o monumento mais visitado da capital do país — convida as criaturas a essa epopeia de empreender uma viagem ao seu próprio interior. Feito isso, sair até mesmo da Via Láctea será facílimo: desde que descubramos o âmago celeste de nosso ser, pois, na verdade, para o Espírito, o espaço não existe.

Assegurou Jesus: “Tudo é possível àquele que crê” (Evangelho, segundo Marcos, 9:23).

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.