Todas as mulheres são mães

Fonte: Jornal O Sul, edição de 21 de maio de 2007, segunda-feira. | Atualizado em maio de 2021.
Arquivo BV

Alziro Zarur 

Na Legião da Boa Vontade, LBV, a visão que temos da maternidade é ampla. Foi o que comentei em 22 de maio de 1988, na Folha de S.Paulo:

Deus, Mãe e Pai dos seres espirituais e humanos, é universal abrangência. Assim sendo, mães não são apenas as que geram filhos carnais. Também são aquelas que se consagram à sobrevivência dos filhos dos outros: as crianças órfãs, até mesmo de pais vivos; as das mães que precisam trabalhar e não têm pessoa de confiança com quem deixá-las; as das que são irremediavelmente enfermas. Tal como se lê no Poema do Grande Milênio, de Alziro Zarur (1914-1979): "(...) Os filhos são filhos de todas as mães, e as mães são as mães de todos os filhos".

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Mães são ainda as que se devotam à Arte, à Literatura, à Ciência, à Filosofia, à Religião, à Política, à Economia, afinal a todos os setores do pensamento ou ação criadora, a gerar “filhos” de sua dedicada competência pelo desenvolvimento da humanidade. A LBV não ergue bastilhas; pelo contrário, as derriba com renovada Boa Vontade. (...)

Muito oportuna também é outra composição poética do velho Zarur: Poema das Mães, uma ode à face maternal, à necessidade da marca afetuosa e forte deste ser no governo dos povos:

"Poema das Mães"

"Desde que o mundo é mundo, até onde vai/ O arqueológico olhar da pré-História,/ Na família dos nobres ou da escória/ A mãe não manda, pois quem manda é o pai.

"Sem pretensão alguma a Nostradamus,/ Eu creio que a razão desse destino/ Da mulher-mãe, que todos subjugamos,/ É o Deus antropomorfo-masculino.

"‘Se é homem o Criador (raciocinaram/ Os argutos filósofos de antanho),/ Façamos das mulheres um rebanho...’ / E assim fizeram quando assim pensaram.

"Desde então, temos visto a velha farsa/ Representada, com solenidade,/ Nos países de toda a humanidade/ Onde a moral pré-histórica anda esparsa.

“‘As mulheres não podem entender-nos’,/ Diziam os despóticos senhores./ E fomos vendo, em séculos de horrores,/ A falência dos homens nos governos.

“Ao meditar, em raras horas mansas,/ Cheguei a conclusões desprimorosas:/ Os homens são crianças rancorosas,/ Sem a graça espontânea das crianças.

“Só então compreendi o caos da guerra,/ Em seus apavorantes misereres:/ Coisa impossível de se ver na terra,/ Quando os governos forem de mulheres.

“Assim é que não pode continuar!/ Porque os ‘chefes’ — piores do que os cães/ Hidrófobos — têm este singular/ Defeito imenso de não serem mães”.

Retrato de Mãe

Reprodução BV

Dom Ramón Ángel Jara

Abro a revista BOA VONTADE, de maio de 1957, e encontro esta joia do saudoso bispo chileno Dom Ramón Ángel Jara (1852-1917): “Existe uma simples mulher que possui um pouco de Deus pela imensidade de seu Amor e muito de anjo pela constância de sua dedicação. Mulher que, sendo jovem, pensa como anciã e, na velhice, trabalha como se tivesse o vigor da juventude; se é ignorante, decifra os problemas da vida com mais acerto do que um sábio; sendo culta, amolda-se à simplicidade das crianças; quando pobre, considera-se bastante rica com a felicidade daqueles que ama; e, sendo rica, daria com prazer sua riqueza para não sofrer a injúria da ingratidão. Forte ou intrépida, entretanto estremece ante o choro de uma criancinha; franzina, se reveste, às vezes, da bravura de um leão. Mulher que, enquanto viva, não sabemos dar-lhe o devido valor, porque a seu lado todas as nossas dores se apagam... Mas, depois de morta, daríamos tudo o que somos e tudo o que temos para vê-la de novo um só instante e dela receber a carícia de seus abraços, uma palavra de seus lábios... Não exijais de mim que diga o nome dessa mulher se não quiserdes que eu inunde de lágrimas este álbum, porque já a vi passar em meu caminho. Porém, quando os vossos filhos crescerem, lede-lhes esta página. E eles, cobrindo-vos de beijos, dirão que um pobre viandante, em retribuição da magnífica hospedagem recebida, deixou gravado neste álbum para todos o retrato de sua própria mãe”.

Vivian R. Ferreira

Reprodução BV

Guerra Junqueiro

Dizem que Mãe não tem rima. Será?! Então secou-se-lhes a musa, ou saiu em férias... Mas não semelhantemente à famosa experiência de Guerra Junqueiro* (1850-1923).

Amor faz rima perfeita com mãe. Mãe é eterna também.

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Nota de Paiva Netto

* Por falar no velho Guerra, contam que o episódio assim se deu: o respeitado poeta português foi ao médico. Não sabia o que lhe cansava os ossos. O clínico, depois de examiná-lo com paciência, prescreveu ao cliente: “Professor, o senhor não tem nada físico que um bom descanso não corrija. Viaje. Não faça nada, nem escreva, e tudo terminará bem. Pode confiar”. O vate prometeu que o faria. Contudo, o que acabou ocorrendo foi o seguinte: quando voltou do “descanso”, trazia um dos seus mais belos feitos para um novo livro: A musa em férias.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.