As mães e os filhos das mães

Fonte: Jornal A Tribuna Regional, de Santo Ângelo/RS, edição de 9 e 10 de maio de 2009, sábado e domingo | Atualizado em maio de 2018.

No opúsculo Mãezinha, deixe-me viver!, publicado em 1989, anotei que atravessamos época de transformações profundas. Daquelas que pesado tributo pagam ao exagero. É o vale-tudo. Nem as mães escapam. Chegou a ser de “bom gosto”, para alguns, falar-se mal delas... Certo pessoal anda mesmo é querendo ser filho da máquina, a boa senhora do computador... Eis a civilização do absurdo, que tanta coisa deseja sem saber o que verdadeiramente quer. “Vade retro!” Freud explica... Explica?! Porém tudo se altera e passa...

Lembro-me de que quando criança existiam bondes. E como era romântico trafegar neles nas “horas mortas”... Durante o “rush”, não! Havia uns pequenos cartazes que diziam assim: “Tudo na vida é passageiro, menos o condutor (o cobrador) e o motorneiro” (digamos, o motorista do praticamente extinto veículo elétrico, que as novas gerações talvez só conheçam nos museus). Agora a gente vê que até aquelas duas figuras, hoje folclóricas, também eram passageiras. Enganou-se, pois, o poeta marqueteiro...

Arquivo BV

Alziro Zarur 

Mas voltando ao assunto: sacudida a Árvore Sociedade, caídos os galhos secos, as folhas murchas, os frutos podres, que impediam seu correto desenvolvimento, a planta sempre rejuvenesce, torna a florescer. É a vitória da vida, o sucesso do Amor. Tudo passa, realmente passa, menos ele. Por quê?! Ora, por quê! Deus é Amor, e “nada existe fora Dele”, afirmava o libertário Alziro Zarur (1914-1979). Quem declarar que não quer ser amado (ou amada) está doente ou mentindo, o que resulta no mesmo...

Pensam que mãe não tem rima? Será?! Então secou-se-lhes a musa, ou saiu em férias... Mas não semelhantemente à famosa experiência de Guerra Junqueiro (1850-1923)...

Mãe faz rima perfeita com Amor.

A musa em férias

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Guerra Junqueiro

Por falar no velho Guerra, contam que o episódio assim se deu: o respeitado poeta português foi ao médico. Não sabia o que lhe cansava os ossos. O clínico, depois de examiná-lo com paciência, prescreveu ao cliente: “– Professor, o senhor não tem nada físico que um bom descanso não corrija. Viaje. Não faça nada, nem escreva, e tudo terminará bem. Pode confiar”. O vate prometeu que o faria. Contudo, o que acabou ocorrendo foi o seguinte: quando voltou do “descanso”, trazia um dos seus mais belos feitos para um novo livro: A musa em férias.

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Casimiro de Abreu

Homenagem

Separei um lindo poema de Casimiro de Abreu (1839-1860) para homenagear as mães do Brasil e do mundo, da Terra e do Céu da Terra, que tem justamente esta invocação: “Minha mãe”. Recordo-me de que Zarur, o fundador da LBV, o interpretava de forma magistral:

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Minha mãe

“Da pátria formosa, distante e saudoso,/ Chorando e gemendo meus cantos de dor,/ Eu guardo no peito a imagem querida/ Do mais verdadeiro, do mais santo amor!/ – Minha mãe!

“Nas horas caladas das noites de estio,/ Sentado sozinho, co’a face na mão,/ Eu choro e soluço por quem me chamava:/ – ‘Ó filho querido do meu coração!’/ – Minha mãe!

“No berço pendente dos ramos floridos,/ Em que eu pequenino feliz dormitava,/ Quem é que esse berço com todo o cuidado,/ Cantando cantigas, alegre embalava?/ – Minha mãe!

“De noite, alta noite, quando eu já dormia,/ Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,/ Quem é que meus lábios dormentes roçava,/ Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?/ – Minha mãe!

“Feliz o bom filho que pode contente,/ Na casa paterna, de noite e de dia,/ Sentir as carícias do anjo de amores,/ Da estrela brilhante que a vida nos guia./ – Uma mãe!

“Por isso eu agora, na terra do exílio,/ Sentado, sozinho, co’a face na mão,/ Suspiro e soluço por quem me chamava:/ – ‘Ó filho querido do meu coração!’/ – Minha mãe!”

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.