Dia dos Povos Indígenas, Páscoa e escassez de água

Fonte: Jornal A Tribuna Regional, de Santo Ângelo/RS, edição de 23 e 24 de abril de 2011, sábado e domingo. | Atualizado em dezembro de 2022.

Bela homenagem aos primeiros habitantes da Terra Brasilis comoveu os peregrinos no Templo da Boa Vontade, em Brasília/DF, na última terça-feira, 19/4. Na Hora do Ângelus foi realizada uma prece em louvor aos povos indígenas, com a presença de integrantes das tribos Pataxó e Kariri-Xocó.

Falando aos microfones da Super Rede Boa Vontade de Rádio, a indígena Anawê, da etnia Pataxó, expressou a sua satisfação: “Hoje é um dia importante para mim e para os meus parentes: poder estar falando sobre a minha cultura e divulgando o nosso trabalho". Tanoné, representante da etnia Kariri-Xocó, valeu-se do momento para fazer significativa revelação sobre o TBV: “Quero dizer que o Templo da Boa Vontade é um órgão que representa a nossa cultura, respeita a nossa tradição, convida a gente para esse dia tão comemorado por todos os nossos povos”.

Aproveito o ensejo para homenagear, em memória aos grandes guerreiros – que amaram e deram suas vidas a este torrão natal – o indígena guarani de São Miguel das Missões, Sepé-Tiaraju, líder da resistência à invasão dos Sete Povos das Missões e os nossos irmãos e amigos espirituais, índios Flexa Dourada e Tabajara.

Celebrando a Vida

Nesta Páscoa, em que, mais uma vez, exaltamos a Ressurreição de Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, celebrando a Sua vitória sobre a morte, abordo tema intrinsecamente ligado à vida, vida humana.

A Agência Nacional de Águas (www.ana.gov.br) mapeou 5.565 municípios brasileiros no que diz respeito “às demandas urbanas, à disponibilidade hídrica dos mananciais, à capacidade dos sistemas de produção de água e dos serviços de coleta e tratamento de esgotos”.

O relatório, intitulado “Atlas Brasil — Abastecimento Urbano de Água”, revelou que investimentos prioritários atingem 3.059 ou 55% dos municípios pesquisados, correspondendo a 73% da demanda por água do país. Obras nos mananciais e nos sistemas de produção totalizam R$ 22,2 bilhões. Segundo a mesma fonte, elas são “fundamentais para evitar déficit no fornecimento de água nas localidades indicadas, que em 2025 vão concentrar 139 milhões de habitantes, ou seja, 72% da população”.

O levantamento demonstrou ainda que “o Norte e o Nordeste possuem, relativamente, as maiores necessidades de investimentos em sistemas produtores de água (mais de 59% das sedes urbanas). (...) No Sudeste, os principais problemas decorrem da elevada concentração urbana e da complexidade dos sistemas produtores de abastecimento, que motivam, muitas vezes, disputas pelas mesmas fontes hídricas”.

Reflexos no comportamento 

A escassez de água nas metrópoles já traz reflexos no comportamento da população, conforme noticiado pela imprensa. Recentemente, houve violentos protestos em São Paulo/SP, em consequência do desabastecimento em diversos bairros.

Problema mundial

Ademais, a gravidade do tema ultrapassa nossas fronteiras. É o que atesta notícia da Agência Lusa, veiculada pelo Portal Boa Vontade (www.boavontade.com):

“Mais de um bilhão de pessoas, a maioria vivendo nas grandes cidades, ficará sem água em 2050. A estimativa é de um estudo publicado na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences. De acordo com os cientistas, as más condições sanitárias de algumas metrópoles mundiais agravam o risco para a fauna e a flora. ‘Existem soluções para que esse um bilhão de pessoas tenha acesso à água. Mas isso requer muitos investimentos na infraestrutura e melhor utilização da água’, afirmou o coordenador da pesquisa, Rob McDonald, do centro de estudos privado The Nature Conservancy. Segundo os pesquisadores, se a tendência atual da urbanização continuar, em 2050 cerca de 993 milhões de habitantes das cidades terão acesso a menos de 100 litros de água por dia para viver. Essa quantidade corresponde ao volume de um banho por pessoa. Os cientistas advertem ainda que se forem acrescentados os efeitos prováveis da mudança climática, cerca de outros 100 milhões de pessoas não terão acesso a esse volume de água. O consumo de 100 litros diários é considerado pelos analistas como o mínimo necessário a um indivíduo para as necessidades de bebida, alimentação e higiene. (...)”.

Além dos investimentos governamentais, é preciso que haja, por parte dos povos, uma conscientização maior sobre o uso sustentável dos recursos hídricos. Água é Vida, sem ela torna-se impossível qualquer tipo de existência. Poluí-la é crime de lesa-humanidade.

Em Somos todos Profetas (1991), comentei que, com negligência, continuamos profanando-a, como se quiséssemos decretar, nós mesmos, a nossa morte coletiva. Que acabará sobrevindo? O precioso líquido em forma potável transformar-se-á, por sua rareza causada pela insanidade humana, em mais um grave fator de guerra.

Impeçamos que esse drama atinja o mundo todo. Administrar é realmente chegar antes.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.