Esopo, Liberdade e Esperança.

Fonte: Antiga revista Manchete, edição de 3 de junho de 2000. | Atualizado em novembro de 2020.
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Heitor Villa-Lobos

Fui aluno do Pedro II, o antigo Colégio-Padrão, no Rio de Janeiro. Boas recordações guardo dos mestres Homero Dornelas (1901-1990), assessor do genial Heitor Villa-Lobos (1887-1959); Honório SilvestreJosé Jorge (1921-2006); Newton Gonçalves de Barros (1915-1997); Pompílio da HoraSá RorizFarinaChoeri (1925-2013); Sebastião LoboJosé Marques LeiteFernando Segismundo (1915-2014), ex-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, a nossa ABI; e outras notabilidades nacionais.

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Esopo

Lá estudávamos as páginas de Esopo (aprox. 620-564 a.C.), Fedro (aprox. 15 a.C.-50 d.C.), La Fontaine (1621-1695)...

Fábulas, todos sabem, são narrativas em que os animais falam, acertam ou se equivocam, possuem sabedoria ou empáfia. Enfim, singularizam os homens com as suas qualidades e defeitos. Esopo, um cativo grego na ilha de Samos, viveu há mais de 2.500 anos e era campeão em contar essas historinhas, que sempre nos convidam a refletir. Uma delas é:

O cão e o lobo

“Vinha um cão por uma estrada. De súbito, deu de frente com um lobo, que lhe disse:

“— Amigo, estás com uma excelente aparência! Forte, lépido, feliz. Sinto até inveja de ti…

“— É mesmo?! Faze então igual a mim. Consegue um dono bondoso. E terás alimento nas horas certas e serás bem-cuidado. Meu único serviço é, se aparecerem assaltantes, latir à noite. Vem, pois, comigo e ele te dará semelhante tratamento.

“O lobo considerou a proposta muito boa e foi acompanhando o cão no caminho de casa. Até que, a um dado instante, um fato despertou a sua curiosidade.

“— Que é isso pendurado em teu pescoço? Estás machucado?

“— Bem... — respondeu-lhe o cão — é por causa da coleira.

“— Quê?! — espantou-se o lobo…

“— De dia, meu senhor me prende com ela. Não quer que eu apavore as pessoas que o visitam.

“Ouvindo isso, o lobo não quis mais conversa e abandonou o cão no meio do trajeto, todavia não sem antes lhe dizer: — Amigo, esquece tudo, porque não te seguirei mais. Acho melhor viver liberto do que na tua aparente abastança”.

Moral da história e lição de Jesus

Não há ouro suficiente que valha a liberdade, que, para ser correta, invoca responsabilidade. E, assim, o velho filósofo da Hélade, que era mentalmente livre, embora padecesse a ignomínia da escravidão, legou-nos, entre outros, esse grande preceito. Contam que o senhor de Esopo, espantado com tamanho saber, lhe deu carta de alforria.

Arquivo BV

Lavoisier

O ensinamento de Jesus é superior ao do fabulista. Encontra-se no Evangelho, segundo João, 8:32: “Conhecereis a Verdade [de Deus], e a Verdade [de Deus] vos libertará”. Eis a diferença — a verdade dos homens, em geral, costuma deixá-los malogrados, porque às vezes é apenas razão, que pode variar conforme os mais diversos fatores, incluídos os de longitude e latitude, apesar da globalização infrene. A Verdade de Deus eleva-nos ao esclarecimento maior. É razão embasada na Justiça e firmemente no Amor, por conseguinte distante de fanatismos ou de certas espécies de convicções radicais.  A Verdade de Deus, até nas dúvidas mais recônditas, premia os seres humanos, quando justos, pacientes e pertinazes, com a Emancipação Espiritual. Ela jamais os surpreenderá, adiante, com as mais tristes frustrações. Isso ocorreu a célebres pensadores que viram suas certezas abaladas, ou mesmo derruídas, com o estremecimento de ideologias brilhantes, porém pouco eficazes. Entretanto, como esclareceu Lavoisier (1743-1794): “Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Ninguém é culpado, sendo crente ou ateu, por realmente querer o melhor para o povo.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.