10 curiosidades sobre a trajetória musical de Paiva Netto

Você sabe como Paiva Netto herdou sua veia musical, ou qual foi sua primeira obra? Em meio a uma agenda de compromissos como escritor, jornalistaradialista, líder ecumênico e diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV), como sua característica musical se desenvolveu? Separamos 10 curiosidades sobre a trajetória musical do compositor Paiva Netto que podem te surpreender:

1) O incentivo à música veio de seus pais

Divulgação

Dorival Caymmi

Seus pais Idalina Cecília de Paiva (1913-1994) e Bruno Simões de Paiva (1911-2000) tiveram como padrinho de casamento Dorival Caymmi (1914-2008) — já podemos perceber a boa influência musical que tinham, antes mesmo do nascimento de seu filho primogênito Paiva Netto. Idalina tocava piano, era mezzosoprano dramático, e ninava os filhos (ele e sua irmã Lícia Margarida [1942-2010]) em francês. Com o pai, aos 5 anos, Paiva Netto ouvia os eruditos. Aliás, apreciavam-se quase todos os ritmos naquela casa, a começar por sambas, chorinhos, marchinhas e valsas.

Arquivo BV

Dona Idalina, "seu" Bruno e Lícia. A família Paiva num álbum de família.

Arquivo Pessoal

Homero Dornelas

Reprodução BV

Heitor Villa-Lobos

Participou, ainda menino, de serenatas com César Moreno e de rodas de samba de fundo de quintal, e não perdia, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, os “Concertos para a Juventude”. Foi aluno do professor Homero Dornelas (1901-1990), assessor do notável maestro e compositor brasileiro Villa-Lobos (1887-1959).

 

2) Criou sua primeira obra por uma nobre causa, e foi aos 19 anos!

Suas letras e melodias refletem a sensibilidade de um ser humano cuja existência é voltada ao progresso espiritual e material da Humanidade, por meio de sua dedicação extrema à Causa da Boa Vontade. Aos 19 anos de idade, elaborou a Marcha dos Soldadinhos de Deus, interpretada pela primeira vez em 21 de abril de 1960, por meninos amparados pelo Instituto São Judas Tadeu, no Rio de Janeiro/RJ, onde colaborava como voluntário. A apresentação foi uma homenagem a Brasília/DF, que o então presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902-1976), inaugurava naquela data.

Arquivo BV

Juscelino Kubitschek

3) Foi sonoplasta do saudoso Irmão Alziro Zarur

Também foi sonoplasta das pregações radiofônicas do saudoso fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979) — o que acentuou ainda mais seu ouvido musical. Ele fala sem vaidades sobre sua vocação, que nasce, antes de tudo, na Alma: Por favor, não me chamem de músico. Sou apenas um instintivo, um intuitivo, com já distantes noções de teoria, aprendidas na mocidade com o pianista, violoncelista, compositor e eficiente professor Homero Dornelas, que trabalhou com o notável Heitor Villa-Lobos (...)”.

Arquivo BV

Em outubro de 1968, no gabinete da Presidência da LBV, no Rio de Janeiro/RJ, Zarur e Paiva Netto ouvem, concentrados, uma gravação. 

4) Faz música para o povo. Por isso, sempre coloca os que trabalham com ele para cantarem suas músicas antes de as lançar.

Fonte de inspiração de Paiva Netto, a intuição sempre foi sua grande aliada. Mesmo em meio a viagens, reuniões ou gravações, quando a inspiração se fazia presente, ele logo a traduzia em notas, que se transformariam em grandes sucessos. Sobre essa qualidade, o maestro Legionário Vanderlei Pereira, que acompanhou vários processos criativos de Paiva Netto, recorda um fato curioso: “Quando o Irmão Paiva compôs Prece para ter Tranquilidadeele pediu que eu, na hora do arranjo, colocasse os pizzicatos no contrabaixo. Pizzicato é uma palavra italiana que significa ‘beliscando’, aquele som característico que faz tum, tum, tum, e não é com o arco que o músico executa; ele usa os dedos, toca como se tivesse beliscando mesmo as cordas, e elas dão aquele som característico. O compositor explica que esse efeito representa o pulsar do coração tranquilo”.

A premissa de Paiva Netto é a de que sua música seja direcionada para o povo. Por isso, suas composições são simples, mas originais e não perdem a beleza, como ele mesmo esclarece: “Eu tenho um costume. Faço música para o povo, para tocar o coração. A melodia para o povo é aquela que o faz sair cantando. Então, o que eu faço? Convido a todos os que trabalham comigo a cantar. Digo: ‘Escuta, pessoal, tenho aqui uma musiquinha que fiz. Conto com a ajuda de Vocês. Já sabem: se Vocês cantarem, todo mundo vai cantar’”.

5) Gosta de compor para vários gêneros musicais

Arquivo BV

Almeida Prado

Ao longo de sua trajetória na música, Paiva Netto desenvolveu uma característica peculiar de composição, que o saudoso maestro Almeida Prado (1943-2010), parceiro dele em uma sinfonia, chamava de “transtonal”, significando que o compositor trabalha com tonalidades distintas na mesma música, o que a deixa mais dinâmica, sem perder a simplicidade, qualidade que ele preza em tudo o que produz. Aliás, Paiva Netto administra tal como compõe, com a preocupação de que aquilo que seja diferente se encaixe da melhor maneira, sem prejudicar a harmonia.

Outro ponto importante é o de que as composições não pertencem a um estilo específico. Ele compõe desde músicas eruditas, a exemplo da belíssima Ave, Maria! Dominus Tecum!, até o tango Jesús ha de venir, passando por vários gêneros musicais, entre eles o jazz e o samba. As composições de Paiva Netto são conhecidas também por carregar uma linha minimalista*, como na Sinfonia Apocalipse, composta, em 1987, a quatro mãos, com Almeida Prado, a partir dos temas do Poema Sinfônico Argentina, que Paiva Netto escrevera ainda na década de 1980. Os versos do movimento coral são de Mário Frigéri.

6) Já fez parceria com grandes nomes da música erudita

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Alexander Yossifov

Além da parceria com o saudoso Almeida Prado, Paiva Netto escreveu outras obras com renomados músicos, sendo uma delas com o maestro e compositor búlgaro Alexander Yossifov. Juntos, compuseram o Concerto para Piano e Orquestra no 2, em dó maior. Cativado pela riqueza melódica do compositor brasileiro, Yossifov escreveu uma orquestração, em forma de abertura de ópera, para Negrada — Jesus, o Grande Libertador!, um dos maiores sucessos do dirigente da LBV. Também orquestrou outras cinco composições de Paiva Netto — A Santa Catarina; Ave, Maria! Mãe de Jesus; Divertimento no 1 (bailarico); O Canto da Mata; e Alegria em Santa Catarina —, organizando-as numa obra musical para orquestra de cordas: Suíte Aquarius — A Dança dos Mundos. Todas são campeãs de venda.

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Maestro Ricardo Averbach.

Essas composições foram gravadas entre 1989 e 1993 nas terras de Pancho Vladiguerov (1899-1978). A Sinfonia Apocalipse teve a interpretação da Orquestra e Coro Misto da Rádio Nacional de Sófia e solos de Valery Popova (soprano) e Georgi Petkov (barítono). Com a mesma orquestra no Concerto para Piano e Orquestra no 2, contou com a participação do Coral Meninos de Sófia e do premiado pianista Svetoslav Karparov. Na Suíte Aquarius — A Dança dos Mundos, a interpretação foi do premiado violinista Angel Stankov e da Sofia Chambers Players Orchestra. Todas estiveram sob a regência do maestro Ricardo Averbach, discípulo destacado do ilustre Vladi Simeonov.

7) O Oratório O Mistério de Deus Revelado nasceu de uma proposta do Espírito Villa-Lobos

O Oratório O Mistério de Deus Revelado é, sem dúvida, uma das obras mais aplaudidas do compositor Paiva Netto. O título nasceu de uma proposta do Espírito Villa-Lobos, em Portugal, por intermédio do sensitivo Legionário Chico Periotto, em 6 de maio de 1992. O famoso músico sugerira inicialmente “O Mistério de Deus”, ao que Paiva Netto acrescentou “Revelado”. Gravado pelo National Philharmonic Choir “Svetoslav Obretenov”, da Bulgária, sob a regência do maestro Ricardo Averbach, o Oratório superou a marca de 550 mil cópias vendidas, conquistando Disco de Platina Duplo. Saiba mais sobre o Oratório.

 

 

8) Compôs Ave, Marias! em homenagem aos Legionários de todo o Brasil

No início da década de 1980, Paiva Netto empreendeu uma série de viagens missionárias. Durante esse período, ele se dirigia ao povo com pregações do Evangelho-Apocalipse do Cristo de Deus e, enquanto isso, compunha obras em homenagem à Mãe de Jesus para fortalecer os corações dos Legionários.

Vivian R. Ferreira
“Maria e a LBV, Seu Sagrado Manto”, dedicada ao povo de Minas Gerais.

No repertório, as obras homenageiam o Brasil e vários Estados da Federação. Entre elas estão A Santa Catarina e Alegria em Santa Catarina, homenagens a esse Estado; a música Ave, Maria! Gratia Plena, endereçada ao povo de São Paulo; Ave, Maria, uma exaltação ao povo do Distrito Federal; Ave, Maria, Mater Jesus, oferecida ao povo do Brasil; e Maria e a LBV, o seu Sagrado Manto, dedicada ao povo de Minas Gerais. 

9) Elementos de seu disco “Negrada — Jesus, o Grande Libertador! representam a mãe negra cuidando de seus filhos com muito carinho

Um dos primeiros e grandes sucessos de Paiva Netto foi o disco Negrada — Jesus, o Grande Libertador!, lançado em 1o de abril (na Religião Divina conhecido como Dia da Verdade) de 1983, simultaneamente ao lançamento do Livro Jesus, em Salvador/BA.

Algumas das composições que fazem parte do disco, dedicado ao povo baiano, possuem essência da cultura africana e confortam as pessoas que sofrem com todo tipo de escravidão, não importando a etnia. A obra vendeu 100 mil cópias, conquista inédita para a época no gênero erudito no Brasil. Confira abaixo algumas curiosidades trazidas pelo maestro Legionário Vanderlei Pereira especificamente sobre esse disco do compositor Paiva Netto:

 

 

10) Composição de Paiva Netto foi escolhida para concluir aula de regentes na Espanha

librodeoro.com

Maestro Navarro Lara.

Uma das situações que colocaram o compositor Paiva Netto em evidência foi masterclass (aula magistral) feita pela Escola de Regência de Orquestra e Banda “Maestro Navarro Lara”, com sede na cidade de Huelva (Andaluzia), na Espanha, na segunda quinzena de dezembro de 2014. Transmitida ao vivo on-line e disponibilizada em vídeo na internet, a iniciativa reuniu milhares de interessados em música erudita, dos quais muitos eram maestros e alunos do último ano do curso de regência da referida escola, que acompanhavam a preleção de várias partes da Espanha e de outros 40 países. Leia matéria completa.

Bônus: Sua obra “O Novo Mandamento de Jesus” foi interpretada na sede das Nações Unidas em Nova York

Em 5 de abril de 2000, o movimento final do Oratório O Mistério de Deus Revelado — “O Novo Mandamento de Jesus” — foi interpretado na sede das Nações Unidas em Nova York, nos Estados Unidos, pelo Coral Ecumênico Boa Vontade, primeiro coro brasileiro a apresentar-se na ONU. O grupo emocionou os milhares de pessoas reunidas no Trusteeship Council (Conselho de Tutela), da ONU, e foi aplaudido de pé pelo público presente após a apresentação dessa composição de Paiva Netto. Saiba a opinião de coralistas que participaram do evento.

Adriana Jason

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* Minimalista — Relativo a minimalismo, que se refere a pequenas variações no motivo (menor unidade musical que se repete ao longo da música) da composição.

Fonte: Trecho da seção “Compositor” da edição histórica da revista BOA VONTADE, p. 156-171, que traz alguns dos fatos marcantes dessa trajetória vitoriosa.