Reflexões da Alma em terras lusitanas

A Verdade não é jurisdição de pessoa alguma nem de qualquer facção humana.

Entrevista concedida, em 19 de Setembro de 2008, pelo jornalista e escritor brasileiro José de Paiva Netto, autor do best-seller Reflexões da Alma, lançado em Portugal (Junho de 2008), à jornalista Ana Serra, de Lisboa.

Aqui a publicamos conforme original na língua de Camões. Notará o prezado(a) leitor(a) pequenas diferenças para o português utilizado no Brasil.

Boa leitura!

Os editores

Caro dr. Paiva Netto,

O meu nome é Ana Serra, sou jornalista de Lisboa, e estas são algumas perguntas sobre o seu mais recente livro Reflexões da Alma.

Primeiro que tudo, gostaria de lhe perguntar de que forma este livro se encaixa na sua vida, no seu percurso profissional, mas também espiritual.

Paiva Netto: Prezada colega Ana Serra, agradeço-lhe a gentileza da lembrança de entrevistar-me. Vamos lá. Antes de tudo, conforme registei, em 1981, na entrevista que concedi ao veterano jornalista italiano radicado no Brasil Paulo Rappoccio Parisi*1, a Verdade não é jurisdição de pessoa alguma nem de qualquer facção humana.

Reflexões da Alma traduz um pouco da minha experiência em 52 anos de peleja na Legião da Boa Vontade*2. Tive o prazer de trabalhar quase um quarto de século ao lado do saudoso jornalista, radialista e poeta brasileiro Alziro Zarur (1914-1979), fundador da LBV. Depois do seu falecimento, na qualidade de secretário-geral, dei prosseguimento à Obra, ao tornar-me seu director-presidente. Durante todo esse tempo de labuta constante, e desde 1979 para cá no comando da Entidade, diante dos desafios que enfrentei para mantê-la de pé e fazê-la expandir-se pelo mundo, pude adquirir novos conhecimentos em diversas áreas, moldando o meu caráter na Fé Realizante e na perseverança em Jesus, o Cristo Ecuménico, o Estadista por excelência. Basta ler, sem preconceitos, o Seu Evangelho e o Seu Apocalipse, para reconhecer Suas múltiplas capacidades de Sabedoria infinita.

Posso figurar esta equação, Fé e Trabalho, num antigo provérbio russo, que gosto de repetir: “Confie em Deus, mas continue nadando para a praia".

Altruísmo na gestão da Economia

Creio de facto que, quando a Boa Vontade dos homens se une à Boa Vontade de Deus, nada mais é impossível de ser concretizado, humana, social, moral e espiritualmente, incluído um novo tipo de capitalismo (ou outro nome que lhe queiram dar), em que a ganância desenfreada (não me refiro aqui ao ganho justo) não seja a gestora das suas realizações, mas, sim, a Solidariedade, o Altruísmo, como reiterei na entrevista que concedi ao jornal Folha de S.Paulo, da capital do progressista Estado bandeirante, no Brasil, em Fevereiro de 1982. Os factos que vêm ocorrendo no sector bancário (a partir dos EUA), a exemplo do Drexler Burnham Lambert, do Merrill Lynch, e o clímax de hoje com a grave situação do Lehman Brothers, possivelmente representam o forte alertamento de que a hora de uma profunda transformação tenha chegado.

Realinhamento geopolítico-económico

Em geral, essa mudança de estágio não se dá como deveria — a História fartamente o demonstra. Porém, alguma coisa muda de forma constante: o equilíbrio de poder, seja lá qual for, é sempre afectado.

Bem a propósito, encontrei um comentário que fiz, há quase 20 anos, a respeito dessa metamorfose singular no planeta, que mostra contundentes sinais no instante que vivenciamos. Dentro da série que preparei para o rádio, “Apocalipse e Profecias”, na cidade do Rio de Janeiro, em 9 de Setembro de 1989 — sábado, ao discorrer sobre a expectativa mundial quanto à unificação do bloco europeu, destaquei:

Estamos a caminhar para o encerramento de um milénio, de século e de um ciclo apocalíptico. Essa convergência de factos é o processo que Deus usa para nos chamar a atenção, porque vivemos uma época de mudanças profundas, e as coisas não vão ficar como são actualmente. As pilastras da sociedade da rapina e do ódio serão sacudidas. E tudo aquilo que é podre vai desabar, como está a cair. Vivemos época de caos. Depois, a reconstrução. Após a tempestade, a bonança.

Nações poderosas terão de aceitar os mais variados acordos, mesmo fora das mesas de discussão da Paz. Estados potentes hoje, mas amanhã? Civilizações dominantes foram o Império Romano, a Assíria, a Pérsia, os caldeus, por exemplo. Quando os assírios vinham com as suas tropas, os povos tremiam. Uma blitzkrieg daquele tempo. Onde se encontram? Bom, estão reencarnados em outros grupamentos por aí, aqueles espíritos guerreiros, muitos montando outros conflitos bélicos.

Tudo será realinhado: o poder económico, o poder religioso, o poder político no cenário das nações. Países chegaram a avançados estágios de desenvolvimento material. E, naturalmente, por não saberem conduzir esse progresso, que não foi acompanhado pelo avanço moral e espiritual devido, sofrem consequência dos excessos (...). Por isso, é que vem aí o grande vómito das nações.

E esse realinhamento geopolítico-económico, porque tudo será reformulado, vai eclipsar o poder de superpotências. Cada uma tem o seu tempo no Tempo...

Esforço global por mudanças

Reflexões da Alma apresenta extractos do muito que tenho aprendido no passar de décadas e décadas, sobretudo, em face da cooperação no esforço global por mudanças. Na revista Sociedade Solidária, levada pela LBV à ONU, em várias edições e idiomas, a partir de 2000, ressalto que quando falamos em Ecumenismo, queremos dizer universalismo, Fraternidade sem fronteiras, Solidariedade internacional, visto que entendemos os povos como uma família. E não existe uma só em que todos os filhos possuam o mesmo comportamento. Cada um é um cosmos independente, o que não significa que esses “corpos celestes” tenham de esbarrar uns nos outros. Seria o caos. Em Epístola Constitucional do Terceiro Milénio (1988), assunto que desenvolvi também em minha coluna na Folha de S.Paulo, anoto que a humanidade, no seu irreversível processo de amadurecimento, começa a compreender não existir outra forma de sobrevivência, já que maiores são os factores que nos unem do que a leviandade que eventualmente nos separe*3.

Enquanto houver Vida, haverá saída. E a Vida é eterna. Reportemo-nos, então, ao Ecumenismo dos Corações, aquele que nos convence a não perder tempo com ódios e contendas estéreis, mas a estender a mão aos caídos, pois comove-se com a dor; tira a camisa para vestir o nu; contribui para o bálsamo curativo do que se encontra enfermo; protege os órfãos e as viúvas, como ensina Jesus no Evangelho, segundo Mateus, 10:8; e sabe que a Educação com Espiritualidade Ecuménica tornar-se-á fundamental para o progresso das multidões, porque Ecumenismo é Educação aberta à Paz. A Solidariedade estará na base da ética do terceiro milénio, para o fortalecimento de qualquer nação (não para que domine as outras); portanto, o abrigo de um povo, seja qual for, e a preservação do orbe, que nos agasalha como filhos nem sempre bem-comportados. Não propomos nada de soluções mágicas. Mas toda revolução começa no Espírito do indivíduo. Eis por que o Ecumenismo, como o vejo, é a condição natural e o querer espontâneo de toda criatura quando de corpo e Alma integrada ao espírito da Paz, conforme sublinhei em Reflexões da Alma.

Compartilhar experiências

Ana Serra: Qual era o seu objectivo ao escrever Reflexões da Alma?

Paiva Netto: A princípio, atender os amigos que me solicitaram a publicação de algumas das minhas experiências no decorrer de todos esses anos, relatadas em reuniões administrativas, discursos e palestras, na mídia escrita e eletrónica, no Brasil, em Portugal e em outras partes do mundo. Procurei então modestamente compartilhar isso, imprimindo em letras lições dispostas no caminho de todos os que querem aprender algo que a existência terrestre e espiritual sempre têm a nos ofertar.

Jacobinos, guilhotina e a esquecida Fraternidade

Necessária se torna a concepção de que uma decisiva mudança deva brotar primeiro na Alma de todos nós. A principal chave do sucesso, no transcorrer do terceiro milénio, resume-se em cuidar do Espírito, reformar o ser humano, pois assim tudo será aperfeiçoado, tendo como luzeiro a tantas vezes menoscabada Fraternidade Universal, referida em último lugar no tripé ideológico da Revolução Francesa — 1o Liberdade, 2o Igualdade e 3o Fraternidade —, logo devidamente esquecida, resultando no que se sabe: depois de cortar a cabeça dos que consideravam adversários, os jacobinos passaram a guilhotinar-se entre si próprios. Nem o infrene Robespierre (1758-1794) escapou. Terror atrai terror, quando não superterror. O famoso poeta francês Victor Hugo (1802-1885), talvez versando sobre o tema, proclamava que “o que se deve derramar, em vez de sangue, para fecundar o campo em que germina o futuro dos povos são as ideias”.

Exacto!

Ecumenismo que vence ódios e contendas

Educar com Fraternidade Ecuménica é um serviço que demanda ideal, tempo e decisão constante. Como ilustrou o Nobel de Literatura de 1998, José Saramago*4, durante visita ao Brasil, “não mudaremos a vida... se não mudarmos de vida”

Na minha obra Jesus e a Cidadania do Espírito (2001)*5, cito uma palavra de Malcolm X (1925-1965), islâmico, um dos grandes líderes negros norte-americanos, muito apropriada para este trecho da entrevista. Ele, ao suplantar as contrariedades de sua inicialmente violenta e, por todo o percurso, sofrida existência, concluiu: “As únicas pessoas que realmente mudaram a História foram as que mudaram o pensamento dos homens acerca de si mesmos”.

O seu exemplo aqui é corroborado pelas suas atitudes. Ele mesmo, ao viajar a Meca, percebeu que era possível conviver com pessoas de diferentes origens, opostamente ao que pensava. Ao voltar aos Estados Unidos, passou, para surpresa de muitos, a dirigir-se não só aos afro-descendentes, porém às diversas etnias, algo que o notável pastor norte-americano Martin Luther King Jr. (1929-1968), líder carismático, já compreendera e praticava.

Ainda acerca do poder dos relacionamentos sociais entre religiões, partidos políticos, comunidades, países, prossigo em Jesus e a Cidadania do Espírito esclarecendo um ponto importante: o poder se exerce com moderação e integridade de carácter. Lei perfeita é aquela que abarca Amor e Justiça. Isso é energia benfazeja, o que não significa aquiescência com impunidade, que resulta no caos. Confúcio (551-479 a.C.) disse, e gosto de repetir: “Paga-se a Bondade com a Bondade, e o mal com a Justiça”.

O célebre pensador chinês evidentemente não se referia à vingança, que é antípoda ao sentido de Justiça verdadeira.

O dinamismo da Paz

Cito na publicação Paz para o Milénio — editada inicialmente em quatro idiomas (português, inglês, espanhol e francês), que encaminhei, em 2000, à Conferência de Cúpula da Paz Mundial para o Milénio, ocorrida na ONU — uma exclamação libertária de Gandhi (1869-1948), que corrobora o que lhe exponho: “Sou negro, branco, amarelo, vermelho, mestiço...”

Naquela cimeira, por ser a vice-presidente do Comité de Espiritualidade, Valores e Interesses Globais, na ONU, a LBV foi convidada por carta, pelos organizadores do encontro, para ser a chefe da comitiva brasileira. Tive, ainda, a oportunidade de dizer: estava certo o Mahatma, pois, afinal de contas, somos humanidade. Desde o princípio das eras, temos indissolúvel ligação neste orbe. Somos, portanto, muçulmanos, xintoístas, católicos, bramanistas, budistas, protestantes, hinduístas, bahá´is, judeus, espíritas, esotéricos, agnósticos, mórmons, umbandistas, ateus... Somos, por fim, seres humanos! Isso significa dizer que é imprescindível respeitar as origens e procurar compreender o ponto de vista do nosso semelhante para, com ele, coexistir na sintonia da Paz, de modo que possamos juntar as mãos e trabalhar por quem padece, antes que, de forma globalizante, os padecentes sejamos todos nós, enquanto promotores dementados de verdadeira chacina, ao fomentar um progresso, porém de destruição. A tecnologia apressou a velocidade das coisas. Entretanto, a falta de visão solidária está levando o planeta a uma fase pré-agonizante. Basta ver o aquecimento global, que “não livra a cara de ninguém”, como popularmente se fala no Brasil.

As correntes religiosas, inegavelmente, têm muito a ver com o progresso ou o atraso dos povos. Ora, as vertentes da Fé, por pressuposto, possuem, por dever de ofício, mensagem de bondade e salvação. Alziro Zarur proclamava que “governar é ensinar cada um a governar a si mesmo”.

E não há outro caminho que não seja o da Reeducação com a Espiritualidade Ecuménica, não nos esquecendo de que a boa saúde, física e da mente, é fundamental. E o acesso a um bom emprego é acertado passo nessa direção. Há muito tempo, disse e escrevi que barrigas vazias nem sempre estão dispostas a escutar.

Reconhecer defeitos próprios é saída para crise

Contudo, quando almejamos o apuramento das coisas, é imprescindível que localizemos o que está errado, a começar no nosso íntimo, porquanto, se não reconhecermos os nossos defeitos, como nos poderemos corrigir? Temos basicamente de deixar de enganar-nos a nós próprios, sob o risco de encenarmos, como protagonistas, este desabafo de La Fontaine (1621-1695): “A vergonha de confessar o primeiro erro leva-nos a muitos outros”.

Ora, isto se aplica a todos e a tudo para a melhor convivência global.

Tomemos como exemplo a actual crise. O capitalismo é uma sucessão delas. O que está a exigir, agora mais do que nunca, além das medidas técnicas correctivas, uma reforma que tenha como bandeira a dignidade, o respeito à criatura humana. Do contrário, a próxima explosão da bolha será muito pior que a da primeira década do século 21.

Erigir uma comunidade mundial mais responsável

Rectificar esse costume doentio seria, digamos para argumentar, um categórico primeiro passo para erigir-se, no decurso do terceiro milénio, uma nova comunidade mundial mais responsável, portanto, com menos repentinas crises, incluídas as financeiras e económicas — embora possível e ciclicamente armadas e previstas, pelo menos por aqueles que vivem a tirar ganancioso proveito do que a multidão nem imaginava acontecer. Junte-se a isso as proclamadas omissões e displicências de certos governos a fomentar sequelas como a grave questão do desemprego; a falta de uma melhor regularização e fundamentos económicos sólidos; as estimativas equivocadas da situação económica; e as inefáveis cobiça e arrogância, que têm sido o túmulo de tanta coisa apreciável que nem ao menos teve tempo de nascer, para orfandade das massas. Como vaticinava o Gandhi, “chegará o dia em que aqueles que estão na corrida louca de multiplicar os seus bens na vã tentativa de engrandecimento (extensão de territórios, acúmulo de armas, de riquezas, de poderes...) reavaliarão seus actos e dirão: Que fizemos nós?”

Por isso tudo, prefiro primeiramente confiar em Jesus, que o Mahatma, indiano, mas acima de tudo universalista, tanto respeitava, assim como o fazem os irmãos islâmicos. O Cordeiro de Deus não trai nem entra em crise. Para nossa segurança, Ele havia-nos confortado, ao revelar: “Eu sou o Pão da Vida; quem vem a mim de forma alguma terá fome; e quem em mim crê jamais terá sede! (...) Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Se alguém dele comer, viverá eternamente” (Evangelho, segundo João, 6:35 e 51).

Ora, tudo neste planeta pode ficar além do controle dos homens, mas nada escapa ao comando de Deus. Todavia, quando os seres humanos verdadeiramente se reúnem com o fito de achar-se uma solução, mesmo que para os mais espinhosos problemas, ela surge. Mas, “é preciso que haja Boa Vontade”, consoante propunha Zarur, desde que não seja confundida com boa intenção, com a qual está calçado o inferno, como diz o povo.

Razão e espírito solidário nos relacionamentos internacionais

Por sinal, o senador democrata por Illinois, EUA, Barack Obama, no seu livro A audácia da esperança (2006), actualmente já pré-eleito pelo povo e pela mídia à Casa Branca*6, teceu um comentário que vem ao encontro do que escrevi em 21 de Junho de 1987, para o meu artigo na Folha de S.Paulo, no qual afirmei (no trecho destacado em destaque) que: Na luta por um mundo melhor, deve o ser humano, antes de tudo, procurar a parte de Deus, que toda gente possui. Não falo aqui no deus criado pelo homem à imagem e semelhança do homem, porque essa criação é por demais grotesca. Em vez de andar atrás de coisas que eventualmente nos separem, é dever de todos trabalhar por aquilo que eternamente nos une: o Bem.

Costumo dizer — e há muito tempo — que é nos momentos de crise que se forjam os grandes caracteres e surgem as mais poderosas nações.

Em 18 de Dezembro de 1982, em Goiânia/GO, Brasil, na entrevista que concedi à repórter Cristina, da TV Goyá, relembrei uma bandeira que me acompanha desde a juventude: viver a unidade na diversidade, para vencer a adversidade.

Por isso, nos encontros entre expressivas economias do planeta — naturalmente movidas pelo instinto de sobrevivência, ressaltado por mim na Folha, em 27 de Abril de 1986 — na busca de mecanismos salutares para o enfrentamento de crise, é essencial, contudo, que a razão seja permeada pelo espírito solidário (coisa ainda rara nesses relacionamentos internacionais), pois o coração torna-se mais propenso a ouvir quando a Fraternidade é, de facto, o alicerce do diálogo.

Desejo, portanto, submeter ao critério da leitora e do leitor de Reflexões da Alma que podemos construir uma sociedade globalizada melhor, de Paz, de Fraternidade Ecuménica e batalhar para essa transformação em toda a parte, tema que defendi em Globalização do Amor Fraterno. Trata-se de texto dirigido pela Legião da Boa Vontade aos chefes de Estado, alto comissariado, sector privado e sociedade civil de mais de 100 países, reunidos pela ONU no High-Level Segment 2007, do Conselho Económico e Social das Nações Unidas (Ecosoc), no qual a LBV possui status consultivo geral, evento que se deu no Palais des Nations, escritório central da Organização, em Genebra (Suíça), de 2 a 5 de Julho. Logo após a sessão de abertura, o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon*7, visitou o estande da LBV e ali registou sua presença e o seu apoio ao assinar a capa da revista Globalização do Amor Fraterno, ratificando votos de muito sucesso para todas as acções empreendidas pela Legião da Boa Vontade.

Exaltar virtudes e qualidades eternas levanta uma pátria

Na publicação, apresento também, entre outros, improviso que fiz na cidade do Rio de Janeiro/RJ, Brasil, em 20 de Junho de 1987, no sugestivo auditório do Ecumenismo Total, da antiga sede da LBV. Nele, salientei que não se erige uma pátria melhor e um povo mais feliz fazendo colecção de defeitos, todavia, catalisando acertos. É um verdadeiro suicídio querer compatibilizar os homens por aquilo que têm de condenável. A conciliação precisa ser feita por cima: pelas suas virtudes e qualidades eternas (e não como alguns fazem hoje ao exacerbar, em parte da mídia, o que o ser humano ainda tem de pior. Trata-se de uma atitude suicida, uma sementeira de cardos e urtigas nas Almas. Dar lixo aos povos é querer receber de volta lixo).

Um país progride na razão directa do talento e da pertinácia dos seus filhos (...). O mesmo ocorre em âmbito planetário. Por isso, há tanto tempo julgamos que — enquanto não prevalecer o ensino eficaz por todos os de bom senso almejado, o Brasil padecerá cativo das limitações que a si mesmo se impõe. Aliás, o notável dr. Mário Soares — que tive a honra de receber no Parlamento Mundial da Fraternidade Ecuménica da Legião da Boa Vontade, em Brasília/DF — ao ver estampado esse meu pensamento numa das paredes do ParlaMundi da LBV, no dia em que lá também esteve o nosso amigo Pelé, de forma entusiástica, que é sua característica, virou-se para mim e exclamou: “Mas porquê só o Brasil?! Isto é válido para o mundo inteiro!”, razão por que, aceitando a sugestão do extraordinário estadista, ampliei o pensamento. Realmente, falo com modéstia, esses dizeres servem a quem deles quiser valer-se em qualquer país.

No Correio Braziliense, de 10 de Fevereiro de 1987, recordei máxima do grande cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro dr. Oswaldo Cruz (1872-1917), que Zarur muito citava e nos serve de permanente incentivo também na área do ensino: “Não esmorecer para não desmerecer”.

Newton, a gota e a Vida Espiritual

Eis aí. Simplesmente se trata da educação de superior qualidade, não apenas no campo do intelecto como também naquilo que somos em substância: Espírito. Alguém pode redarguir que a Ciência não provou ainda a realidade da Vida após a morte. No entanto, devemos cogitar sobre o facto de que a gloriosa Ciência, sem a qual não mais conseguiríamos subsistir, é, em termos modernos, muito novinha neste orbe para que alguns dos seus esforçados defensores a entronizem como detentora de toda a Verdade. Ora, seria puro dogmatismo! Portanto, tudo, menos Ciência. Muito resta a ser investigado. Sir Isaac Newton (1643-1727), que não precisa de apresentação, ponderava: “O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”.

Diante da admoestação do sábio enunciador da Lei da Gravidade, que foi um corajoso decifrador do Apocalipse*8, sou levado a reflectir quanto à Vida Espiritual, ainda mais tendo em vista o que aquele inglês notável humildemente concluiu: “A mim mesmo pareço ser apenas um menino que brinca à beira da praia, ora a achar uma pedra mais polida ou uma concha mais formosa, enquanto o grande oceano da Verdade se estende, ignoto, diante de mim”.

A Ciência não é um dogma. Razão pela qual o dever de pensar e o comportamento científico imparcial perante a Verdade são atributos do autêntico cientista.

Perspectiva de conhecimento não é Sabedoria

Em Crónicas e Entrevistas (2000), argumento que determinados pensadores probos, quando ingressam na área da intuição, da existência eterna, vez por outra se assemelham a crianças pequenas e inexperientes, como que engatinhando nesse campo, a considerar que o Espírito tenha a ver com terrores sobrenaturais. Será que tudo o que há no Universo já foi alcançado pela noção intelectual vigente? O nosso desenvolvimento mental contemporâneo marca o limite do saber? Ora, o ser humano nem atingiu o nível de conhecimento pleno, qual seja, a sabedoria, mas apenas alguma perspectiva dela, do contrário não se destruiria, a todo instante, em guerras e mais guerras de todos os matizes e no extermínio do planeta onde vive, reconhecidamente a sua única morada. Pode haver maior loucura que essa?

Candide e o massacre do mundo

Até há pouco tempo, inteligências consideradas entre as maiores, não sabemos por quais interesses movidas, “inteligentemente” negavam tamanha realidade que hoje, para dizer o mínimo, já nos oprime: estamos a arrasar a Terra. Mas, apesar de tudo isso, ainda há quem considere viver no melhor e mais seguro dos mundos, como o pasmante Candide, de Voltaire (1694-1778). Razão plena goza o velho Eça de Queiroz (1845-1900), autor da magnífica página “O Suave Milagre”, ao afirmar que “a Ciência realmente só tem alcançado tornar mais intensa e forte uma certeza: a velha certeza socrática da nossa irreparável ignorância. De cada vez, sabemos mais... que não sabemos nada”.

Deus não tem epílogo

Na busca de Deus, não se coloca ponto final, nem epílogo no estudo de Sua existência, pois seria atitude dogmática, o que não se coaduna com a prerrogativa de pesquisar na procura da Verdade — é um comentário que teço em Sociologia do Universo, no qual registei palavras do primeiro brasileiro a ter um asteroide com o seu nome, o nobre professor Ronaldo Rogério de Freitas Mourão*9, astrónomo e físico, durante o I Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, realizado no ParlaMundi, em Brasília/DF, Brasil, em 18 de Outubro de 2000. Num trecho da sua palestra, quando discorria sobre a visão ampliada que passamos a ter do Cosmos, esclareceu que “ela era limitada porque o ser humano tem necessidade de limitar tudo, dando começo e fim às coisas. A nossa mente é assim. Imaginamos o ser humano como mortal. Não acreditamos que a Vida seja imortal, e eu não tenho dúvida nenhuma de que a Vida é imortal; quem é mortal somos nós, o indivíduo, mas a Vida perpetua-se permanentemente no Universo. Ela está aí totalmente espalhada e isso é importante para se analisar”.

Cito em Reflexões da Alma o escritor português Antero de Figueiredo (1866-1953), que concluiu: “Creiam, todos os caminhos, sinceramente honrados, levam ao Pai Celeste”.

E também Jean de La Bruyère (1645-1696), membro da Academia Francesa: “A impossibilidade de provar que Deus existe prova a Sua existência”.

Mais modernamente o heroico Stephen Hawking*10 declarou que talvez um dia “a humanidade venha a conhecer a mente de Deus”, conforme registo no documento “Ciência e Fé na Trilha do Equilíbrio” que enderecei aos participantes do I Fórum Mundial Espírito e Ciência, em 2000. O renomado físico britânico dr. Hawking ocupa desde moço a cátedra de Isaac Newton como professor lucasiano emérito de Matemática na Universidade de Cambridge. Ressalto que ele é um modelo de pertinácia diante das provações terrenas, a despeito da séria enfermidade que o acomete desde a juventude.

Ninguém é ditador de conhecimento

Em Crónicas e Entrevistas prossigo: Não menosprezo o esforço de quem quer que seja, seria arrogância de minha parte. Entretanto, é uma realidade que se observa em diversos patamares. Ninguém é senhor do saber pleno. Aliás, digo contristado, a uns falta, às vezes, coragem intelectual para desvendar, arrostando preconceitos e tabus, as regiões espirituais. Talvez achem que tudo caminha muito bem na restrita esfera da razão. E digo-o com o devido respeito, ciente de que sector algum do entendimento terrestre possui todos os méritos nem a chave de todos os mistérios. O juízo humano não deve viver enclausurado em departamentos estanques. Dogmatismo científico é aberração.

Ao falar-lhe sobre esses assuntos, estou a reflectir acerca do inestimável valor da Ciência. Coloco-me, sim, a exalçar os grandes vanguardistas, quando não tiveram a compreensão dos próprios pares. Como poderia ser contrário a tão destacado ramo da criatividade humana se vivo a utilizar alguns dos seus maiores contributos para o progresso das nações: a imprensa, o rádio, a televisão, a internet?!

Não precisamos ir muito longe. Há pouco, tivemos o exemplo de dois doutores australianos — que cito na minha página “Profeta Isaías, Apocalipse e a Lei de Causa e Efeito”, na revista JESUS ESTÁ CHEGANDO!, de Dezembro de 2005 — premiados com o Nobel de Medicina no mesmo ano da publicação. Na matéria, relato que foram por 10 anos combatidos pelos seus confrades. Um dos dois pesquisadores pioneiros, o prof. dr. Barry J. Marshall, quase que em desespero, digamos para argumentar eloquentemente, preparou um caldo de formas vivas microscópicas que ele, com o seu colega, o patologista J. Robin Warren, afirmava estabelecerem-se nas paredes do estômago e provocar a gastrite. Tomou a fórmula, ficou doente e, depois, pelo seu novel processo médico que propunha o bem da humanidade, curou-se. Assim conseguiu provar a sua tese não aos leigos no assunto, porém aos seus companheiros académicos, repito, que não se deram ao trabalho de pôr à prova a assertiva dos colegas que vieram a merecer o significativo Prémio Nobel.

Ecumenismo é Paz no planeta

Reflexões da Alma segue a Ideologia do Bom Samaritano, tão bem acolhida pelo ilustre povo português, acerca da qual escrevi na revista BOA VONTADE, número 197, de Janeiro de 2005: ajudar o próximo e esclarecê-lo, intelectual e espiritualmente, para que saiba enfrentar os inúmeros desafios quotidianos e conseguir erguer uma jornada de vitórias. Conforme elucidei em Como Vencer o Sofrimento (1990), quando o ser humano se esmera em aprimorar-se no Espírito, tudo melhora à sua volta. A saída está em educar ecumenicamente. Na abertura do meu livro Jesus e a Cidadania do Espírito, expliquei: O Ecumenismo Divino é uma questão a ser realizada, pois o estado do mundo real infelizmente é, sob diversos aspectos, ainda este: “Mesmo que seja certa a proposta de outra criatura, se não é do meu rebanho, não interessa”.

A solução que propomos para tamanho absurdo é o Ecumenismo, do qual tanto lhes falo nas inúmeras publicações da Editora Elevação   e pela mídia eletrónica, destacando-se a internet. Eis por que o Ecumenismo, como o vejo, é a condição natural e o querer espontâneo de toda criatura quando, de corpo e Alma, integrada ao espírito da Paz de Deus, conforme grafei em Reflexões da Alma (2003).

Exemplificando que a Boa Vontade é o elo de sapiência que nos une como seres espirituais e terrenos, porque a vida na Terra começa no Céu, exponho nos meus escritos e palestras a visão de tanta gente dos incontáveis redis religiosos, políticos, científicos, filosóficos, artísticos e, universalizando, do pensamento criador. Porquanto existe um fio de Ariadne1 que, se fielmente observado, nos livra da terrível escuridão da caverna do insaciável Minotauro, da Ilha de Creta da submissão e do sacrifício humano, conduzindo-nos até à claridade que nos liberta do cativeiro da ignorância que, de uma forma ou de outra, nos oprime a todos. Esse fio de Ariadne é o Novo Mandamento de Jesus, a respeito do qual eu já afirmei ser o fio milagroso que une as partes anacronicamente separadas do organismo sociedade. Alziro Zarur (1914-1979), saudoso fundador da Legião da Boa Vontade, o definiu como o “Denominador Comum”, em que é possível a todas as pessoas confraternizarem.

Concordo com Vinicius de Moraes (1913-1980), o inesquecível poetinha — como ficou conhecido o parceiro de outro gênio da Bossa Nova, Tom Jobim (1927-1994) —, que, com sua peculiar inspiração, versejou: “Você é, ao mesmo tempo, um coração que bate e um único batimento nesse corpo chamado humanidade”.

E esses nossos Irmãos em Humanidade, quando trazem em si e nos seus escritos um extenso cabedal de expressões em que todos podemos, com um mínimo de Boa Vontade, nos encontrar, demonstram, assim, que o Ecumenismo é verdadeiramente poderoso instrumento de Paz num planeta em que qualquer diletante promove a guerra. (...)

Ilustres portugueses

Na edição portuguesa de Reflexões da Alma, publicada pela Editora Pergaminho, registo a antiga amizade que cultivo pela terra do admirável Luís de Camões (1525-1580), do inesquecível Fernando Pessoa (1888-1935), da saudosa Amália Rodrigues (1920-1999), do brilhante neurologista, investigador, professor, político e escritor Egas Moniz (1874-1955) — Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1949. A querida Florbela Espanca (1894-1930) é outro exemplo, ela que tem sonetos magistralmente declamados pela grande senhora do teatro português Eunice Munhoz. Temos ainda a consagrada atleta Rosa Mota e nomes da importância de João de Deus (1830-1896), António Feliciano de Castilho (1800-1875), Antero de Quental (1842-1891), Camilo Castelo Branco (1825-1890), Júlio Dantas (1876-1962) com a notável “A ceia dos Cardeais”: “como é diferente o amor em Portugal”, Ramalho Ortigão (1836-1915), Júlio Diniz (1839-1871), Guerra Junqueiro (1850-1923), Eça de Queiroz (1845-1900), entre tantos outros.

Não me canso de reiterar: Portugal é realmente uma paixão, para quem sabe contemplá-lo com os olhos de poeta.

Sem coagir o raciocínio

Ana Serra: Na sua vida sempre se dedicou muito ao trabalho na Legião da Boa Vontade. Como é que esta se cruzou no seu caminho?

Paiva Netto: É uma história interessante. Em 1953, quando tinha 12 anos, recebi, no Rio de Janeiro, das mãos de uma alta e bela senhora negra um opúsculo editado pela LBV. Encontrei naquele material de excelente conteúdo ideias universais com o que prontamente me identifiquei. Li sobre as propostas de Zarur, com o seu pioneiro movimento inter-religioso, denominado Cruzada de Religiões Irmanadas, passo decisivo para o Ecumenismo Irrestrito, que a todos procura confraternizar sem lhes coagir o raciocínio, porquanto é um pensamento libertário, democrático. A democracia — o regime da responsabilidade, como costumo defini-la — necessita de ter início no campo espiritual, moral e filosófico, em que se deve cuidar da formação ética do indivíduo e combater as intransigências. Por exemplo, se os religiosos não se entenderem, eles que propagam a existência de Deus, retratado por João Evangelista como Amor (Primeira Epístola, 4:8), todos os demais seres humanos dir-se-ão justificados em suas inclemências. Afinal, como sempre ressalto, Religião, Filosofia e Política não rimam com intolerância. A Ciência, idem. Observem a reflexão de Voltaire: “A tolerância é tão necessária na política como na religião; só o orgulho é intolerante”.

E outra coisa: jamais se deve pregar um Criador que apavore as criaturas, porém que as deixe mais responsáveis e fraternas.

Civilização civilizada?! Só com diálogo

Dias desses, li — na obra Farmácia de Pensamentos, da pesquisadora brasileira Sonia de Aguiar, com a qual fui presenteado pelo veterano jornalista gaúcho Luiz Carlos Lourenço*11 — a seguinte sentença do dinâmico cantor, compositor e ex-ministro brasileiro da Cultura, Gilberto Gil: “A arte, a religião e a ciência são maneiras diferentes para atingir os mesmos fins. Mas, no fundo, todas elas procuram respostas para as mesmas perguntas”.

Indagações que apenas serão elucidadas quando a Fraternidade Ecumênica tornar-se o fundamento do diálogo religioso, político, filosófico e científico numa sociedade planetária que se arvora civilizada. Diante disso, cabe aqui esta palavra do velho Goethe (1749-1832): “Aquele que tem vontade firme molda o mundo à sua imagem”.

Pobre da sociedade sem a discussão das ideias

A respeito desse assunto, na mensagem “Questão de Morte ou de Vida” — que dirigi aos participantes de um dos congressos temáticos do Fórum Mundial Espírito e Ciência, ocorrido de 20 a 25 de Outubro de 2003, no ParlaMundi da LBV —, considerando que, segundo Napoleão Bonaparte (1769-1821), “a maior figura de retórica é a repetição”, reforcei o meu raciocínio publicado na Folha de S.Paulo, de 31 de Dezembro de 1989, para marcá-lo com maior intensidade: Por ser aqui o Parlamento Mundial da Fraternidade Ecuménica da Legião da Boa Vontade, o ParlaMundi da LBV, todos têm, por força das actividades dele, mais que o direito de expressar suas opiniões, mesmo que com o calor natural à defesa das teses, todavia, sem espírito de cizânia; logo, civilizadamente. Pobre da sociedade sem a discussão das ideias. Detestam-na apenas os que querem o domínio criminoso da mente humana. A História conta-nos o horror que tem sido a sua passagem pela Terra. E o homem que não aprende com o passado não tem futuro. (...)

Então, devemos, como disse anteriormente, do trinómio da histórica revolução dos franceses, buscar a repudiada Fraternidade, pô-la à frente do famoso tríptico, de maneira que surja, mesmo que tardiamente, a íntegra do que almejaram os idealistas não radicais — isto é, aqueles que não mandaram decapitar nem alegremente se decapitaram entre si —, de 14 de Julho de 1789, tendo em vista que sem Fraternidade não haverá Liberdade nem Igualdade, pois, afastados dela, anunciadores de novos tempos acabam por se trucidar. Os factos históricos, frequentemente, dão testemunho dessa triste verdade. Como exemplo de expressão maior de Fraternidade, aponto-lhe, repetindo Zarur, o Novo Mandamento de Jesus: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35).

E Siddhartha Gautama (aprox. 563-483 a.C.), o Buda, afirma: “É pela benevolência que se deve vencer a cólera: é pelo Bem que se deve vencer o mal. Deve-se vencer o avarento pela generosidade, e o mentiroso pela verdade”.

“Mãe, música de Natal em Junho?!”

Voltando ao relato do meu encontro com a LBV: passaram-se três anos, e certa manhã acordei com uma forte vontade de ligar o rádio. Quando o fiz, ouvi a tocante composição, de Joseph Möhr (1792-1848) e Franz Grüber (1787-1863), Noite Feliz. Era 29 de Junho de 1956. Intrigado, exclamei: Mãe, música de Natal em Junho?! Em seguida, Zarur começou a ler a passagem do Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 2:14, na qual os Anjos anunciam o Seu Celestial Nascimento: “Glória a Deus nas Alturas, e Paz na Terra aos homens de Boa Vontade!”

Após ouvir as dissertações dele, disse resoluto: Mãe, é com esse que eu vou! O meu coração fora despertado, e naquele mesmo dia em que se homenageiam São Pedro e São Paulo, peguei na minha bicicleta e fui às ruas pedir ajuda para a Instituição.

No ano seguinte, pude conversar em pessoa com o presidente-fundador da LBV e tornei-me, com o tempo, secretário dele. Desde então, não mais abandonei esta causa da Boa Vontade Divina, porque o povo precisa de atenção fraternal permanente, não apenas intelectual, como também para a Alma, pois somos transitoriamente corpo, mas, em essência, Espírito.

Caridade que transcende o material

Ana Serra: A LBV tem um importante papel na sociedade a todos os níveis. Considera que a humanidade necessita de mais projectos e organizações como esta?

Paiva Netto: Constantemente reitero que falta Humanidade à humanidade. E a LBV, desde os seus primórdios, na década de 1940, preocupa-se em proporcionar uma existência mais digna às pessoas necessitadas de instrução para a vida e às que, embora vivendo bem, são carentes na emoção e no Espírito. Ela oferece ensino com Espiritualidade Ecuménica para que se forme e desenvolva o Cidadão Ecuménico, com os seus valores igualmente firmados no eterno, portanto, no Espírito, que não é mera projecção da mente.

Einstein, Planck e a frequência do Espírito

Quando Albert Einstein (1879-1955) revolucionou a Física com a sua teoria relativística, compreendida na extraordinária equação E = mc2, ninguém pôde mais referir-se à massa e à energia como coisas distintas, porque uma é a outra em condição diversa. Da mesma forma, o pai da física quântica, Max Planck (1858-1947), enunciou o E = hν, trazendo outra equivalência entre grandezas científicas. Trata-se, portanto, de uma questão de frequência. Assim, mutatis mutandis, ocorre entre matéria e Espírito. O corpo humano (massa) você vê, toca, sente o cheiro, ouve, e de tal modo “comprova” uma “realidade” palpável. Com a energia (Espírito), isso não sucede. Porém, não significa que ela, a energia, não exista, pois que o efeito de sua acção espalha-se por toda a parte. Os nossos cinco sentidos materiais comumente conhecidos é que são (ainda) bastante falhos diante da ocorrência verdadeira (ainda) invisível que nos cerca. Excepção apenas para os que têm especial sensibilidade mediúnica, o chamado sexto sentido — que pode muito bem não ser o último —, para captar do Mundo Espiritual o que o ser terreno comum até agora não assinala.

Negar o Espírito é repudiar o átomo

Se vamos contestar a presença viva dos Espíritos, comecemos então por negar a existência do átomo, que continua imperceptível aos olhos humanos desarmados, mas existe. Parece uma coisa louca à mentalidade afeita a prosseguir agindo sob o orgulhoso pensamento geoantropocêntrico, mesmo sabendo não ser a Terra o centro do Universo e o ser humano uma fração, de fracção, de fracção do Cosmos. Graça Aranha (1868-1931), o célebre autor de Canaã, um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, abre-nos a mente para o infinito do saber ao declarar que “a marcha da Ciência é como a nossa na planície do deserto: o horizonte foge sempre”.

Da busca intelectual à busca espiritual

Ora, a Ciência é uma busca intelectual constante. Dia virá em que todos compreenderão que seu supremo apanágio será o da busca espiritual permanente. Como afirmamos aqui, há uma Ciência das esferas divinas além da Ciência da dimensão humana. Ademais, há muitos pensadores e académicos que corajosamente se dedicam ao desvelamento desses considerados “mistérios”. E encontram-se — enfrentando tabus alimentados pelos seus próprios iguais — no caminho certo que vanguardeiros cientistas de escol vêm trilhando pelos séculos. Um exemplo geral, que nem carece de justificativa, Galileu Galilei (1564-1642), visto que em 2009, estaremos a viver os 400 anos desde as primeiras observações telescópicas do céu feitas pelo “avô da Física”.

Os governos devem ser acompanhados pela sociedade

O labor da LBV — com o acompanhamento material, moral, mental e espiritual às famílias e suas comunidades — é desenvolvido todos os dias do ano. Essa atenção devolve o sentido de Humanidade às pessoas, de modo que passem a perceber o imperativo de cuidar do próximo, o que sustenta o ânimo solidário, sem o que não pode subsistir uma sociedade realmente civilizada. Os governos não são suficientes sem o acompanhamento eficaz da sociedade.

Um dia, a guerra deixará de ser a solução extrema dos conflitos, a felicidade da indústria bélica — denunciada pelo presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower (1890-1969) — e o infortúnio dos povos. Por esse motivo, reitero nesta entrevista o já mencionado Ecumenismo dos Corações, que se comove com a dor e age para acudir a quem precisa, independentemente de crença, filosofia, etnia ou até mesmo descrença (ateu também é nosso irmão em humanidade e filho de Deus). Perante a hodierna globalização, a vivência do sentimento de Fraternidade sem fronteiras é inadiável. Por isso, é importante termos cada vez mais instituições e pessoas dedicadas à construção do bem colectivo.

O património da Caridade

A Caridade é o conforto de Deus para as Almas e o relacionamento cordial entre criaturas que firmemente desejam a preservação deste mundo. Ela é uma função espiritual e social, não apenas um acto particular de socorrer apressadamente o mais próximo. É uma política dignificante, um planejamento humanitário, uma estratégia, uma logística de Deus, entendido como Amor, a nós oferecida, de modo que haja sobreviventes à cupidez humana. A Caridade é a Força Divina que nos mantém de pé. Sabemos, e basta ir ao dicionário, que Caridade é sinónimo de Amor. Portanto, é respeito, solidariedade, companheirismo, cidadania sem ferocidades. O mundo precisa de carinho e Amor Fraterno. Quem diz que não quer ser amado está doente ou a mentir, o que, no fundo, no caso em questão, é a mesma coisa. Pode ter certeza de que a pessoa está gritando lá dentro: “Socorro! Preciso ser amado! ou, preciso ser amada! Mas não tenho coragem de dizer! Tenho vergonha de reivindicar, um pouco que seja, da Fraternidade de meus irmãos humanos! Mas escutem o meu apelo desesperado e silencioso!”

Como escrevi em Tratado Universal sobre a Dor (1990), o Amor revela a Luz e a Luz espanta a treva. Que mais quereremos nós? O ser humano tem carência de Amor verdadeiro. É o que muitos dirigentes dos povos em definitivo precisam de entender. Governa bem aquele que governa o coração. Exclamam alguns: Ah, eu não falo em Caridade!” Infelizmente creem que ela se resume em dar às pressas esmola ao mendicante que os interpela. Já estão a falhar quando se irritam diante do necessitado, que em geral é efeito e não causa. Devem reflectir sobre este ditado latino: “Hodie mihi, cras tibi. (Hoje, eu; amanhã, você)”.

Ou seja: agora, o pedinte é ele; amanhã, poderemos ser nós. O pior é que alguns transferem essa “amofinação” para um sentimento elevadíssimo, que é a Caridade, que eles não entendem muito bem, mas que se personifica na cola que junta as partes separadas da sociedade mundial. Enfim, Caridade é a esperança que repousa em Deus.

A Fé que impulsiona os desbravadores do mundo

Ana Serra: Neste livro, o senhor evidencia a ligação entre o Espírito e o corpo, sendo que a tranquilidade da Alma pode sarar o corpo. De que forma? Essa paz de espírito está acessível a todos?

Paiva Netto: Minha prezada colega, tudo é originário do Espírito. O corpo é a nossa vestimenta provisória. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já trabalha a importância da saúde espiritual. Há muitas pesquisas sérias que indicam como a Espiritualidade influencia o bem-estar de um indivíduo. E a ferramenta competente a ser movida para alcançarmos a tranquilidade de Alma é, num orbe tão carente, a prece acompanhada da efectiva acção de Solidariedade (que sempre deveria nortear o serviço dos governos). Contudo, o exercício da oração — nascida da sintonia com Deus ou, para os que não têm crença religiosa, a vivência dos mais elevados sentimentos — sem o efectivo da caridade, somente poderia, em certos casos, transformar-se em mais uma execrável personificação de egoísmo. Para melhor entendimento da Fé espiritual e socialmente activa, cunhei a expressão Fé Realizante: aquela que nos une aos Poderes Superiores, pacifica nossa Alma e nos motiva a realizar o bem da sociedade. A Fé Realizante é, portanto, a que impulsiona os desbravadores do progresso no mundo, impedindo a estagnação das comunidades. O seu dever é criar e agir num ambiente sem intolerância, que vem sendo, pelos séculos, um dos maiores tormentos da humanidade.

Os que se desvirtuam no caminho não servem de referência. Uma pequena explicação se faz necessária. Existem pessoas especiais pela força da sua crença no Poder Celeste, que, com o simples facto de orar, movem as Forças Divinas, alcançando verdadeiros milagres que solucionam problemas insolúveis à providência humana e curam enfermidades, de forma a deixar perplexas respeitáveis notoriedades da Ciência. Exemplos desses notáveis místicos: Padre Pio (1887-1968) e Dom Bosco (1815-1888), na Itália; Edgard Cayce (1877-1945), nos Estados Unidos; Djuna, na Rússia; Chico Xavier (1910-2002) e Padre Antonio Ribeiro Pinto (1879-1963), no Brasil; Theresa Neumann (1898-1962), na Alemanha; Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), na França; Lúcia, Jacinta e Francisco, de Fátima*12, Portugal.

Como curar o corpo

Então, percorramos o sentido contrário da estrada que leva o ser humano à doença. Vivamos em ligação com o Pai Celestial. Não descaiamos nas armadilhas que enfermam o nosso organismo. E aí  tornar-se-á patente, mesmo ao mais céptico dos homens, ou das mulheres, que o respeito às coisas espirituais compõe forte elemento para toda cura. Como já disse, os remédios são mais eficientes onde vige o Amor.

Efeito social da Prece

A acepção de Fraternidade e Espiritualidade Ecuménica coloca-nos em sadio contacto íntimo com nós mesmos e com o Criador do Universo e Suas criaturas, que constituem o mais perfeito altar onde devemos adorá-Lo, conforme destaquei, em 5/11/1983, no discurso de lançamento da pedra fundamental da sede da Legião da Boa Vontade (LBV), em São Paulo/SP, Brasil, durante o 8o Congresso dos Noivos e Casais Legionários. Na obra Ao Coração de Deus Colectânea Ecuménica de Orações (1990), afirmei: quando se ora, a Alma respira, fertilizando a existência humana. Fazer prece é essencial para desanuviar o horizonte do coração. E isso se encontra ao alcance de todos, porquanto possuímos a inata capacidade de meditar para escolher o caminho adequado e resolver transtornos que se iniciam no Espírito e, depois, se manifestam no corpo, muita vez em forma de doença, e no campo social.

Escrevi em Reflexões da Alma que quem, religioso ou ateu, souber usufruir do silêncio de Alma fará brotar, de dentro de si, todas as riquezas que o mundo não lhe pode oferecer, a começar pela paz de espírito, que Deus nos prometeu e que ninguém, além Dele, nos pode integralmente proporcionar, porque nem na sua totalidade ainda a conhecemos: “Minha Paz vos deixo, minha Paz vos dou. Eu não vos dou a paz do mundo. Eu vos dou a Paz de Deus, que o mundo não vos pode dar. Não se turbe o vosso coração nem se arreceie, porque Eu estarei convosco, todos os dias, até o fim dos tempos” (Evangelho de Jesus, segundo João, 14:27; e Mateus, 28:20). Não há um pensador sério, guardadas as excepções de praxe, que não necessite de entrar, mesmo que vez por outra, no ambiente inspirador da reflexão, dando-lhe este ou aquele nome. E isso não favorece apenas a quietude psíquica, como igualmente a serenidade somática.

Ideia cuja hora chegou

Em Somos todos Profetas (1991), digo: Estamos corpo, mas somos Espírito. A nação que compreender e administrar essa Verdade empolgará e governará o mundo no transcorrer do terceiro milénio. E, se alguém julgar tal raciocínio um delírio, apresento-lhe este aforismo do genial Victor Hugo: “Aqueles que hoje afirmam que uma coisa é impossível de ser concretizada tacitamente se colocam ao lado dos que vão perder”.

Bem a propósito, o filósofo e sociólogo italiano Pietro Ubaldi (1886-1972), correspondente de Einstein e grande admirador da Legião da Boa Vontade — que definiu como “um movimento novo na história da humanidade. Colocará o Brasil na vanguarda do mundo” —, numa das suas conferências, lembrou-se deste outro apontamento do gigante de Besançon: “Há uma coisa mais poderosa que todos os exércitos: é uma ideia cujo tempo tenha chegado”.

O presente é resultado de ontem

Ana Serra: O senhor também em atitudes e consequências. Como é que o que se faz no passado pode reflectir-se no presente e no futuro?

Desglobalização e superproteccionismo

Paiva Netto: Prezada Ana, isso é matemático. Basta analisarmos a actual crise financeira, logo em seguida fatalmente económica, e, por consequência, social e política, que os países vêm e virão a enfrentar. Ela não se formou agora e nem é a primeira. Está a ser alimentada desde o momento em que se priorizou a ganância de alguns em detrimento do bem-estar de muitos. A economia em voga é muitas vezes desalmada porque, para criar riqueza sectorial, garante, mantém e espalha a pobreza. Para ela, hoje mais do que nunca, quase que não há limites éticos. E presentemente temos de manter aceso o nosso cuidado, pois algo pode acontecer, até mesmo um movimento de desglobalização como, por exemplo, o superproteccionismo, digamos, forçado pela crise que se configura.

O deserto dos romanos

Entronizou-se o capital monetário e esqueceu-se do que chamo de o “Capital de Deus”, que é justamente o Espírito Eterno do ser humano. Este é, embora alguns não saibam, o centro da Economia, a mais espiritual, no sentido mais amplo, das ciências ou arte, conforme defendi numa entrevista à Folha de S.Paulo, em 1982.

Em Reflexões da Alma, escrevo ainda sobre o “progresso de destruição”, promovido por quem está impulsionado pela cobiça de ganhar a qualquer preço e nem alcança que põe em risco a si próprio, ou a si mesma, à família, à pátria e ao mundo como o conhecemos. Ecoa pelo orbe a advertência de Tácito (55-120 d.C.), aplicada originalmente aos romanos, pela assolação de Cartago: “Vocês criaram um deserto e chamam-no de paz”.

Exacto, pois os filhos de Roma devastaram Cartago até as bases. E é o que andam a fazer, tais loucos, com a Mãe Terra actualmente.

Altruísmo na Economia

A situação presente, que atravessamos no mercado, demonstra que existe uma necessidade aguda de altruísmo, e não de criminoso embate egocêntrico perpétuo, nos relacionamentos socioeconómicos, não apenas individuais, mas colectivos, neste planeta. Por ser uma intervenção que demanda muito esforço, deveríamos ter começado ontem. Contudo, não há do que rir quando aqui falamos em altruísmo na Economia, porque essa é uma deficiência que poderá levar a humanidade — como ocorreu depois da primeira grande batalha mundial, em que a Alemanha foi esmagada — a outro tremendo choque armado que então se apresentará com antigos e novos atributos, provocando migrações desesperadas e desesperadoras nas mais inimagináveis regiões do mundo, por causa da perseguição, desemprego, escassez de géneros alimentícios, poluição, que não é de agora, e, mais que tudo, o aquecimento global (por alguns negado, como outrora negado foi o malefício do fumo sobre o corpo humano) e a já presente expansiva falta d’água, ou todos os tipos de guerra, conhecidos, imaginados e inimagináveis, tais como a cibernética e a biogenética.

Adam Smith (1723-1790) escreveu em A Riqueza das Nações que: “Numa sociedade civilizada, o homem, a todo momento, necessita da ajuda de grandes multidões”.

Ou fará surgir tiranos como Adolf Hitler (1889-1945). Lembremo-nos da ruína da República de Weimar que o projectou no país de Humboldt (1769-1859), Bach (1685-1750) e Beethoven (1770-1827), e de lá para o mundo, com as consequências que não ignoramos. Caso contrário, poderemos ser arrastados — em extensão e profundidade — ao domínio de ditadores mais funestos que o führer, além dos que andam disfarçada ou escancaradamente a actuar pelo planeta.

O palácio da vingança

Da história dos belicosos confrontos — raciocínio que exemplifiquei ao repórter Toni, da Rádio Sociedade de Uberaba/MG, por ocasião do Congresso Internacional Jesus Está Chegando!, em Uberlândia/MG, Brasil, em 23/12/1983 — um aprendizado podemos extrair: Justiça e compaixão devem caminhar juntas, o que não significa, pelo facto de empregarmos aqui a palavra compaixão, assentimento com a indesculpável irresponsabilidade diante de erros que prejudicam povos inteiros ou um único cidadão que seja. O oposto disso é ver repetir o que se verificou por força do Tratado de Versalhes, em 1919. Uma das vertentes que procuram explicar a eclosão do segundo conflito mundial considera que as potências vencedoras, fingindo ou pensando a Paz, acabaram fazendo a sementeira da Segunda Grande Guerra. (Quanto à motivação da Primeira, há também muitas teses respeitáveis). No entanto, é flagrante o espírito de vingança contra a belicosidade daquela Alemanha em alta crise, não o almejo de estabelecer um espírito prolongado de Paz. Criaram um campo de cultura excelente para a explosão do vírus do nazismo. Esse germe foi prefigurado na Sala dos Espelhos do Palácio de Luís XIV (1638-1715). Por conta da Cláusula de Culpa de Guerra, ou Artigo 231 do Tratado, a Alemanha, considerada responsável “por perdas e danos”, foi economicamente exaurida pelas altas cobranças.

Presságio de guerras?

Geralmente, depois de uma crise, como a que começamos a atravessar, países entram, para resumir, em conflito, seja económico, diplomático, que podem resultar num cruel encontro bélico. Vale recordar a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Dez anos mais tarde, tivemos a Segunda Guerra Mundial, a 1o de Setembro de 1939 — com a maquiavélica invasão da Polônia —, apesar dos esforços, tidos por muitos como ingénuos, do então primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain (1869-1940), em 1938. Ao saltar do avião, na Inglaterra, sacudindo uma via do Acordo de Munique, que o vento agitava, bradou para o povo: “Paz com honra!”

E não foi o que se viu. Chamberlain ignorou o comportamento de um sátrapa como Hitler, para quem “tratados podiam ser rasgados”.

Só que desta vez poderemos estar frente a frente ao início de um abalo económico sem registo na História, que não deixará nenhuma nação neutra, conforme Alziro Zarur descreve o catastrófico cenário que prefigurará o próximo e último Armagedom, anunciado pelo Apocalipse (16:16). Diz Zarur: “O último Armagedom apocalíptico terá origem espiritual e não puramente económica”*13.

Sinais do esgotamento planetário

Não somos suseranos nem censores da humanidade, mas humildes servos do Divino Educador. Porém, o planeta vem dando muitos sinais de que não mais tolera ofensas à sua frágil camada protetora de ozónio. Basta anotar a incidência crescente do cancro de pele. Vejam igualmente os múltiplos reflexos das súbitas mudanças climáticas que já abordamos. Mesmo que seja a repetição de um ciclo natural da Terra, é inegável que temos colaborado muito para o apressamento desse drama que a todos vem a atingir. É a implacável regra física de acção e reacção, a terceira lei de Newton.

Na minha página, “Gandhi: o capital em si não é mau”, apresento esta irreprochável advertência de Benjamin Franklin (1706-1790): “Só sabemos o valor da água quando o poço seca”.

Touché! Vero, mas lamentável.

Ninguém decreta o nosso destino

Ana Serra: Acredita no destino?

Paiva Netto: Creio que todos possuímos uma destinação na vida. Senão seríamos como pequeninos infantes que nem ainda se aperceberam de si mesmos. Entretanto, acredito que ninguém decreta o nosso destino. Quem o constrói somos nós, com a protecção de Deus, quando assim felizmente preferimos. Cabe aqui, com propriedade, esta assertiva de Alziro Zarur:  “A Lei Divina, julgando o passado de homens, povos e nações, determina-lhes o futuro”.

Daí ter eu recebido, com muito prazer, a sugestão feita pelo saudoso artista plástico italiano, radicado no Brasil, de fama internacional, e meu saudoso amigo, Roberto Moriconi (1932-1993), de incluir na base do Trono e Altar de Deus, que se encontra no ambiente principal do Templo da Boa Vontade (TBV), em Brasília/DF, este pensamento: Todo dia é dia de renovar nosso destino. A propósito, o TBV, símbolo-mor do Ecumenismo Divino que defendemos e que tive a honra de fundar em 21 de Outubro de 1989, concretiza muito bem esse brado de renovação. Tem sido o monumento mais frequentado, de acordo com dados oficiais da Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur-DF), recebendo anualmente mais de um milhão de peregrinos e turistas do mundo inteiro. Ao completar seu décimo nono aniversário, foi aclamado pelo povo uma das Sete Maravilhas da capital do Brasil. Espero quando possível, cara colega, a sua visita.

O Mundo Espiritual não é abstracção

Ana Serra: Qual o papel do Mundo Espiritual no mundo terrestre?

Paiva Netto: Ao falar em Vida Espiritual, refiro-me à existência vigente após o fenómeno chamado morte. O Mundo Espiritual, gosto de reiterar, não é algo abstracto, indefinido. Ele realmente existe, pleno de vibração e trabalho. Não o vemos ainda por uma questão de frequência, obstáculo a ser desvendado pela actividade científica e suplantado pela evolução dos sentidos físicos, que se abrirão para novos céus e novos mundos. Disse Jesus: “(...) Meu Pai não cessa de trabalhar, e Eu com Ele. (...) Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, crede também em mim. Na Casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu o teria dito a vós. Vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais comigo” (Evangelho, segundo João, 5:17 e 14:1 a 3).

Estabelecem-se, de forma clara, na palavra do Divino Pedagogo, a existência e a actuação activa, militante, do Mundo Espiritual sobre o mundo material, por meio, por exemplo, dos Anjos Guardiães. Desse modo, é necessário que todos estejamos conscientes desse intercâmbio e saibamos lidar com essa realidade “invisível”.

Rui Barbosa (1849-1923), notável jurisconsulto brasileiro, jornalista, escritor, embaixador, diplomata (denominado o “Águia de Haia”), parlamentar, ministro da Fazenda, estadista, captou este divino propósito: “A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima”.

Protectores invisíveis e intercâmbio

O Profeta Muhammad (560-632) — “Que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre ele!” — regista no Alcorão Sagrado: “Cada [um] tem protectores. Escoltam-no em turnos sucessivos, por ordem de Deus”.

O ensejo recorda-me o pronunciamento de Sua Santidade, o papa João Paulo II (1920-2005), em 2 de Novembro de 1983 — que citei na revista BOA VONTADE, edição 223, em minha página: “Não há morte em nenhum ponto do Universo” —, ao se dirigir aos fiéis reunidos na Basílica de São Pedro, em Roma: “O diálogo com os mortos não deve ser interrompido, pois na verdade a vida não está limitada pelos horizontes do mundo”

Daí a precisão de meditarmos sobre esse ponto. É compreensível que sintamos falta dos que partiram. Todavia, não nos devemos exceder em lágrimas, porque a nossa aceitável dor pode perturbar-lhes, no Plano Espiritual, a adaptação à nova conjuntura.

E prossigo no mesmo documento:

(...) Doutora em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas pela Universidade de São Paulo — USP, a professora Jane Bichmacher de Glasman explica que “no pensamento judaico, vida e morte formam um todo, sendo aspectos diferentes da mesma realidade, complementares uma da outra”.

Conselho dos bons Espíritos

Além dessas, temos a consideração de Allan Kardec (1804-1869), o sábio de Lyon, no livro A Génese, sobre o relacionamento compulsório entre este mundo e o seu correspondente invisível: “Pelas relações que hoje pode estabelecer com aqueles que deixaram a Terra, possui o homem não só a prova material da existência e da individualidade da Alma, como também compreende a solidariedade que liga os vivos aos mortos deste mundo e os deste mundo aos dos outros planetas”.

Kardec expressou também esta sentença que fiz constar de minha obra A Missão dos Setenta e o “lobo invisível”: “Como acreditar que Deus só ao espírito do mal permita que se manifeste, para perder-nos, sem nos dar por contrapeso os conselhos dos bons Espíritos?”

Antes provai se são de Deus

Na minha obra O Brasil e o Apocalipse — volume III (1995), apresento mais uma contribuição ao tema que, pela sua importância, trago aos seus leitores:

Geralmente quando se fala em Espírito, algumas cabeças, que por pouco tempo obscurecem ainda determinados sectores das diversas crenças do mundo, gritam arrepiadas: “Espírito! Coisa de satanás! Vade retro!” Então, como explicar o surgimento das religiões, pois se elas, salvo raras excepções, originaram-se justamente de manifestações espirituais?!

No século 17, o cardeal Giovanni Bona (1609-1674), conhecido como o Fenelon da Itália, com muita propriedade assim se manifestou: “Motivo de estranheza é que se pudessem encontrar homens de bom senso que tenham ousado negar em absoluto as aparições e comunicações das Almas com os vivos, ou atribuí-las a extravio da imaginação, ou, ainda, a artifícios dos demónios”.

Espíritos existem e sempre existirão. Que somos senão Espíritos sob a vestimenta da carne?! O que nos compete é discernir se a Entidade Espiritual é evoluída ou se permanece atrasada, como nos aconselha o Apóstolo João, na sua Primeira Epístola, 4:1: “Amados, não deis crédito a qualquer Espírito, antes provai se são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”.

Emmanuel, em seu livro Caminho, Verdade e Vida — psicografia de Chico Xavier —, analisando essa Carta do Evangelista Profeta, alerta para o perigo de se amesquinhar os canais de comunicação com o Plano Invisível: “Se muitas vezes aparecem fracassos, nesse particular, se as experimentações são falhas de êxito, é que, na maioria dos casos, o indagador obedece muito mais ao egoísmo próprio que ao imperativo edificante”.

Diz mais o sábio mentor espiritual: “Haverá sempre quem dispense luz nas assembleias de homens sinceros. O programa de semelhante assistência, contudo, não pode ser substancialmente organizado pelas criaturas, muita vez inscientes das necessidades próprias. Em virtude disso, recomendou o apóstolo que o discípulo atente, não para quem fale, mas para a essência das palavras, a fim de certificar-se se o visitante vem de Deus”.

Galileu e a Torre de Pisa

O grande mal que ainda dificulta aos cérebros excessivamente cépticos vislumbrar horizontes na esfera do Espírito — e o seu relacionamento com a frequência que, como seres terrenos, habitamos — é querer apenas aceitar os factos do ponto de vista físico absoluto. Esquecem-se de que o “Tudo”, na verdade, está submetido à acção de Sublimes Poderes — ainda não devidamente, e sem ideia prefixada, analisados por admiráveis cerebrações, porém em demasia racionais — que nos colocam em postura distinta da que têm como única probabilidade legítima. No entanto, não passa de enorme limitação do pensamento científico, que, por sua própria natureza, não pode erguer óbices ao seu raciocínio, porquanto o que hoje é considerado norma intransponível da Física, logo amanhã poderá não mais o ser. De novo o exemplo de Galileu: quando o notável filho de Pisa quis corrigir — comento-o em forma de bom humor — a inclinação da famosa torre no território da Astronomia (risos), ao declarar, reiterando o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que a Terra nunca foi o centro do Universo, quase o mataram, porque ele, por amor à verdade, atreveu-se a quebrar alguns conceitos “inamovíveis” de ilustres pensadores daquele tempo, viciados a contemplar a torre torta. Não suportariam vê-la no prumo. Entretanto, com Galileu firmou-se a ciência experimental moderna.

O “vazio” é realidade palmar

O que nos dias actuais se compreende como inexistente pode muito bem ser o real. Não assusta mais a afirmativa de que, em função do átomo, o “vazio” é realidade. Clifford V. Johnson, professor do Departamento de Física e Astronomia da University of Southern California, EUA, expõe que: “Na física quântica até o vácuo do espaço que consideramos vazio e sem nada não é realmente vazio, a física quântica permite que tudo aconteça com alguma probabilidade”.

Não há, pois, nada mais repleto, para a visão espiritual do Ser, do que o dito espaço vago. O que geralmente não é visto por nós acontece, repito, por uma desprezível disparidade de frequência. Depois de Einstein, consoante já aqui exposto, os pensadores não mais buscam diferenças entre massa e energia. A massa vê-se, a energia sente-se. O espaço parece vazio, mas lá está a energia em vigor. Matéria também é Espírito, afirmei em carta ao meu filho José Eduardo, quando, no início da década de 1990, ele estudava regência na Bulgária, e procurei relatar um pouco disso em Reflexões da Alma.

Transporte interdimensões

De facto, “mortos” e “vivos”, formamos todos uma única família. Ainda em “Não há morte em nenhum ponto do Universo”, manifestei que — a morte não interrompe a Vida, ipso facto, o aprendizado não tem fim. Na Terra ou no Céu da Terra, prosseguimos trilhando o caminho da Eternidade. De acordo com o nobre médico e político brasileiro dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (Espírito), “a morte é como um sopro que realiza o transporte da Alma do estado de dimensão física para o de vibração espiritual. A Vida é eterna”.                                   

O suicídio golpeia a Alma. Não desista da Vida!

Por isso, o suicídio é um acto que indiscutivelmente golpeia a Alma de quem o pratica. Ao chegar ao Outro Lado, ela vai encontrar-se mais viva do que nunca, a padecer opressivas aflições por ter fugido da sua responsabilidade terrena. Convém assinalar que sempre alguém fica ferido e/ou abandonado com a deserção da pessoa amada ou amiga, em quem confiava, seja aqui ou no Mundo da Verdade.

Igualmente, é de muito bom senso não olvidar que no Tribunal Celeste vigora o Amor, mas não existe a impunidade. Excelente conduta que os governos da Terra ainda não aprenderam de todo.

Ciência Moral

Ana Serra: De que forma pode haver compatibilidade entre o conhecimento científico e o conhecimento espiritual?

Paiva Netto: No meu livro Somos todos Profetas, registo que aquilo que a Religião intui a Ciência, um dia, comprovará em laboratório. Bem que, na área científica, como tantas vezes já afirmei, não pode haver convicções pétreas nem negações sem remissão. Ciência sem Religião pode tornar-se secura de Alma. Religião sem Ciência pode descambar para o fanatismo. Por isso, na época ideal que todos desejamos ver surgir no horizonte da História, a Ciência (cérebro, mente), iluminada pelo Amor (Religião, coração fraterno), elevará o ser humano à conquista da Verdade. Há muito tempo, comentei que todos os ramos do saber universal são Ciência Divina. Religião é Ciência, Ciência é Religião, porque ambas devem honrar a Ciência Moral, que tem pelas criaturas o supino respeito, não as considerando elemento para fanatização nem como reles cobaias.

No meu estudo “Ciência de Deus”, ponderei que — o raciocínio altamente sectário, que ainda infelicita alguns, é que sustenta rancores que ensombrecem os olhos da Alma de geniais cerebrações, que muito mais poderiam fazer, unidas, pelos povos sequiosos de um mundo melhor, e os quais tanto delas esperam. Falta mais Fraternidade para maior compreensão entre todos os estratos do pensamento criativo que muito deveriam executar pela humanidade, sem os desvios criminosos da ganância ou da pretensão, porquanto “não há donos da Verdade”, dizia Zarur. Dante Alighieri (1265-1321) definiu o Amor, na Divina Comédia, como “a força que move o Sol e as outras estrelas”.

Ligar Razão ao Espírito

É fundamental afastar o tabu de que a Fé religiosa esteja restrita aos tolos e radicais e de que a Ciência seja reduto apenas dos que possuem o intelecto aguçado, mantendo-se, de preferência, distantes do sentimento que liga a Razão ao Espírito Imortal. Convém ressaltar que Racionalidade em demasia, sem o amparo do coração — podia dizer da mente sublimada —, promove, por exemplo, soluções económicas que a uns privilegiam e aos demais destroem. Veja a estarrecedora situação de povos da África, cujo comércio de diamantes — executado por estrangeiros e nativos sem qualquer visão humano-social, portanto movidos por uma avidez criminosa — praticamente em nada lhes trouxe benefício. Pelo contrário, patrocinou e prolongou guerras civis, consequentemente a fome, a doença, o analfabetismo; em suma, a miséria. Gosto muito — e é bastante ilustrativa — dessa consideração de Luther King: “(...) Apesar desses passos espectaculares da Ciência e da tecnologia, e de tantos outros ilimitados ainda por vir, algo básico está a faltar. Há um tipo de pobreza de espírito que está em contraste evidente com a abundância científica e tecnológica. Quanto mais ricos nos tornamos materialmente, mais pobres temo-nos tornado moral e espiritualmente. Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não a arte de conviver como irmãos”.

Cláusula pétrea e o direito de reflectir

Voltando ao artigo “Não há morte em nenhum ponto do Universo”, concluí: Dia virá em que notáveis pensadores não mais prescindirão da vivência confortadora da realidade do Plano (ainda) Invisível. Deveriam, sobretudo, lucubrar acerca da inafastável morte do corpo e não pretender explicações essencialmente materiais para um fenómeno irremovível que envolve o Espírito, que não se encontra resumido à mente humana. Quando despertam no Outro Lado, a surpresa para muitos é imensa.

Há quem possa sorrir dessas modestas ilações. No entanto, indispensáveis cultores do intelecto não se podem designar a si próprios, digamos para argumentar, como partidários de convicções pétreas. Semelhante postura não se apraz com a boa índole do seu labor. De outra maneira, seu juízo deixaria de ser ciência, visto que a incessante investigação, libertada do convencionalismo cerceador, provoca justamente o crescimento da Cultura.

O dr. Stephen Hawking oferece-nos este raciocínio: “Restringir nossa atenção aos assuntos terrestres seria limitar o espírito humano”.

Conhecer a Vida Eterna muda o nosso quotidiano

É pertinente citar o trabalho do respeitado psicólogo norte-americano e Ph.D. em Filosofia dr. Raymond Moody Jr., M.D., sobre as experiências de quase-morte. No livro  A vida depois da vida, ao apresentar o resultado de centenas de casos por ele pesquisados, constata: “(...) Parece-me estar aberta a possibilidade de que a nossa incapacidade actual de construir “provas” pode não representar uma limitação imposta pela natureza das experiências de quase-morte em si. Em vez disso, talvez seja uma limitação dos modos de pensamento científico e lógico actualmente aceitos. Talvez a perspectiva dos cientistas e lógicos do futuro será muito diferente deve-se lembrar que historicamente a metodologia lógica e científica não são sistemas fixos e estáticos, mas, sim, processos dinâmicos e crescentes. (...) Aquilo que aprendemos sobre a morte pode fazer uma importante diferença na maneira como vivemos a nossa vida. Se as experiências do tipo que discuti aqui [no livro] são reais, elas têm implicações profundas naquilo que cada um de nós vai fazer com sua vida. Então, seria verdade afirmar que não podemos entender essa vida completamente até ter um vislumbre do que acontece além dela”.

A vida prossegue mesmo no cadáver, que se dispõe na multidão de minúsculas formas.

Despedida e agradecimentos

Caríssima Ana Serra, grato pela oportunidade de falar à perseverante gente portuguesa. Foi na bela e histórica Lisboa que escrevi, em 1993, a página “Portugal é uma Paixão”, onde também compus e dei início à compilação de várias de minhas obras literárias e musicais. Amo o seu país. Aliás, costumo brincar com os meus netos ao dizer-lhes que, quando em Portugal, sentimo-nos bem a partir do idioma, pois até as criancinhas, como no Brasil, conversam em português (risos).

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*1 Paulo Rappoccio Parisi — (1921-2016).

*2 52 anos de peleja na Legião da Boa Vontade — Estávamos em 2008. Em 29 de junho de 2020, Paiva Netto completa 64 anos de trabalho a serviço do Bem.

*3 Maiores são os factores que nos unem do que a leviandade que eventualmente nos separe — Leia também o subtítulo “Erigir uma comunidade mundial mais responsável”, a seguir.

*4 José Saramago — (1922-2010).

*5 Jesus e a Cidadania do Espírito — A primeira edição desta obra foi lançada em 2001 sob o título de Cidadania do Espírito, posteriormente foi revista e ampliada pelo autor, que acrescentou Jesus ao nome do livro.

*6 Nota dos editores

O ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama anunciou sua candidatura em 10 de Fevereiro de 2007. Sua eleição para o cargo foi confirmada em 15 de Dezembro do ano seguinte e a certificação para o cargo foi confirmada em 8 de Janeiro de 2009.

*7 Ban Ki-moon — Hoje, o secretário-geral da ONU é o dr. António Guterres. O diretor-presidente da Legião da Boa Vontade recebeu, em 14 de novembro de 2016, correspondência oficial da equipe do novo secretário-geral da ONU, na qual expressa gratidão ao dirigente da LBV pela carta encaminhada ao diplomata português com cumprimentos em virtude da nomeação deste para ocupar o cargo máximo da ONU. Na missiva, assinada por Kyung-wha Kang, assessora especial em Política do gabinete do secretário-geral, consta: “Prezado director-presidente, permita-me agradecer, em nome do secretário-geral designado, António Guterres, as vossas gentis palavras de congratulação. É com grande honra e com um sentido de responsabilidade que ele assumirá suas novas funções. A Legião da Boa Vontade é uma organização da sociedade civil que tem uma parceria de longa data com as Nações Unidas. Sua missão de incentivar a vivência de valores, a fim de criar uma sociedade mais justa e solidária, é mais do que nunca de grande relevância global. Suas iniciativas visam melhorar a situação de pessoas de baixa renda em diversas áreas, tais como educação e desenvolvimento sócio-económico, sendo uma grande contribuição para a conse­cução dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e sua meta de erradicar a pobreza até o ano de 2030. Contamos com a Legião da Boa Vontade para trabalhar junto às Nações Unidas na busca de soluções para os desafios globais mais urgentes da atualidade”.

*8 Sir Isaac Newton (1643-1727) é autor do livro As Profecias do Apocalipse e o Livro de Daniel.

*9 Ronaldo Rogério de Freitas Mourão — (1935-2014).

*10 Stephen Hawking  (1942-2018) — Esta entrevista foi concedida por Paiva Netto à jornalista Ana Serra dez anos antes do falecimento do célebre cientista britânico. Daí o uso do verbo no presente.

*11 Luiz Carlos Lourenço — (1943-2019).

*12 Lúcia, Jacinta e Francisco, de Fátima — Famosos no mundo inteiro, os três pastorinhos portugueses, em 1917, então com 10, 9 e 7 anos, respectivamente, tiveram uma visão do Espírito de Nossa Senhora na Cova da Iria. No local, hoje se encontra o Santuário de Fátima, em Portugal.

*13 Origem espiritual do Apocalipse — Paiva Netto publicou estas palavras de Zarur em sua obra O Brasil e o Apocalipse, volume I (1984), capítulo “Realismo Irreal — II”.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.