A Boa Vontade e o espírito da Paz

Quatorze de fevereiro — Dia da Amizade. Esse sentimento que verdadeiramente se consolida nas lutas e nos dissabores da existência humana se encontra bem retratado em trecho de página compilada por Malba Tahan, pseudônimo do famoso escritor e matemático brasileiro Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), constante de “Lendas do Céu e da Terra”, com o título “Boa Vontade”. Vamos ao singelo conto.

Acervo familiar

Malba Tahan

“Tendo um homem adquirido uma fazenda, encontrou-se, dias depois, com um de seus vizinhos.
“— O senhor comprou esta propriedade? — perguntou-lhe o vizinho em tom quase agressivo.
“— Comprei-a, sim, meu amigo!
“— Pois sinto dizer-lhe que vai ter sérios aborrecimentos. Com as terras, o senhor comprou, também, uma questão nos tribunais.
“— Como assim? Não compreendo!
“— Vou explicar. Existe uma cerca, construída pelo proprietário anterior, fora da linha divisória. Não concordo com a posição dessa cerca. Desejo defender os meus direitos e vou partir para a justiça, para a demanda.
“— Ora, meu amigo, eu lhe peço que não faça semelhante coisa — retorquiu o proprietário. — Acredito na sua palavra. Se a cerca não está no lugar devido iremos e consertaremos tudo de perfeito acordo.
“— O senhor está falando sério?
“— É claro que eu estou!
“— Pois se é assim — respondeu o reclamante, agora acalmado — a cerca ficará como está. O senhor é um homem honrado e digno. Faço mais questão de sua amizade do que de todos os alqueires de terra.  
“E os dois vizinhos tornaram-se amigos inseparáveis, e essa amizade foi de grande utilidade para ambos e para toda a região (...)”.

Frances Gunn/Unsplash

Isso talvez aconteça em termos parecidos, em algum lugar do mundo, mas é para tempos melhores. Então, comecemos ontem.

A Boa Vontade é semente indispensável no cultivo do Amor, da Sabedoria e da Verdade. A partir dela se pode colher, na lavoura da vida, o espírito de Paz. Em seu “Poema da Amizade”, bem definiu o poeta Alziro Zarur (1914-1979): “Meu particularíssimo Evangelho:/ Amizade é a minha religião”.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.